3 de dezembro de 2009

JOAQUIM MONCHIQUE

"PÃO E CIRCO PARA O POVO" 

FACTOS

Nomeado – Joaquim Monchique
Lugar – Teatro Municipal de Bragança com a peça “Paranormal”
Tempo – 41 anos
Signo – Leão
Maior defeito – Paciente
Maior virtude – Curioso
Origem – Lisboa
Ofício – Actor, comediante e encenador

ENTREVISTA

1 @ Estiveste no Brasil, mais concretamente, no Rio de Janeiro, a gravar “Negócio da China” durante um ano e, sensivelmente, quatro meses O que representou para ti essa experiência na cidade maravilhosa?

R: É mesmo uma cidade maravilhosa! Já fui muitas vezes e tenho por lá vários amigos. Aquelas estrelas da Globo, algumas há 30 anos que as vemos. Sabemos com quem se casam, os seus desgostos e as suas alegrias, os sucessos. E, de repente, estar nesse meio, nos estúdios da Globo, que é, tão somente a 5ª maior televisão do mundo, onde toda a produção é à séria, só poderia descrever essa experiência como sendo avassaladora e memorável. Exportámos a novela para os quatro cantos do mundo, é um mercado planetário, que inclui locais como Miami, Índia e Cazaquistão. No Brasil, as novelas já não têm segredos porque quem trabalha no meio domina por completo a arte de as conceber. O meu estúdio era o F e ao lado, no E, estava a ser gravado “O caminho das Índias”, às costas a minha cidade cenográfica era a Índia, um mundo de magia, a DisneyWorld para os actores.


2 @ O Brasil, sobretudo, o Rio de Janeiro, está a braços com o crime “favelado” e assiste a 20 assassínios por dia. Interiorizaste parte dessa violência extrema ao longo da tua estadia?

R: O Rio de Janeiro é uma cidade onde habitam vários milhões de pessoas cujas diferenças sociais são enormes. Claro que as coisas acontecem e temos de nos precaver. Em Roma sê romano. No Brasil sê local. Se andares de chinelos, calções e uma tshirt, vais a todo lado como eu ia, inclusive os famosíssimos bailes de Carnaval nas favelas. Claro que, se vais com um bom relógio e uma máquina fotográfica maravilhosa, aí estás mesmo a pedi-las. Eu frequentava alguns desses bailes antes de ter feito a novela, ou seja, quando ainda não era conhecido. Agora, mesmo que quisesse, certamente já não poderia ir. Mas nas vezes que o fiz, mais de uma dezena, nunca assisti a uma cena de violência, nem tão pouco fui assaltado. O que também não quer dizer nada, visto que, poderia ter acontecido ao sair do apartamento, num ápice. Mas não é a loucura que as pessoas imaginam!


3 @ Durante uma vida de artista, bebeste imensas influências distintas que, de alguma forma, interferiram com o teu processo criativo. Hoje em dia, o que mais te inspira?

R: Tudo! A vida inspira-me! Tive vários mestres e trabalhei com todos os que desejava. Com a sorte e o privilégio, desde a minha estreia, de ter sido sempre com os melhores. Lembro-me de ser pequeno e adorar a actriz Fernanda Borsatti do Teatro Nacional, tinha uma paixão por ela, tive a possibilidade de trabalhar, no início, com o João Lourenço, um belíssimo encenador, depois Mário Viegas, João Perry, La Féria, entretanto, seguiu-se o Herman. Ou seja, com os melhores! Eu viajo muito, assim, também me inspiro em espectáculos a que assisto em cidades como Nova Iorque, Londres e Brasil. Outra arma recente dos artistas é a Internet com o Youtube, por exemplo. Ela dá-nos presentes extraordinários e funciona como fonte de inspiração, especialmente, para os humoristas.


4 @ Ainda tens algum actor ou actriz com quem anseies trabalhar?

R: Não! Gostava de conhecer a Bett Miller, mas como pessoa. Tenho é pessoas com as quais gosto de trabalhar por partilhar-mos a mesma visão, vermos o mundo num prisma idêntico. Com o Falabella acontece precisamente o mesmo, conhecemo-nos no Herman Sic, onde ele foi promover uma novela com a Cláudia Raia e nós tivemos um encontro daqueles… Eu tenho uma dedicatória dele numa fotografia que diz, “Nós somos dois irmão que fomos separados à nascença e depois voltámo-nos a encontrar.” Gostamos dos mesmos artistas, das mesmas coisas, entro numa sala com ele e diz -Viste?”, e eu já sei ao que ele se refere, mesmo sendo algo num canto que mais ninguém viu. Nós temos isso!


Depois, profissionalmente, o maior êxito da minha vida, em teatro, presenteou-mo o Miguel. Em cena no Brasil durante cinco anos, “Paranormal” teve um milhão de espectadores, e ele disse-me que seria óptimo para mim representar a peça em palco e interpretar um monólogo. Curiosamente, o único género teatral que me faltava no meu currículo aos 20 anos de carreira. Decidi, então, celebrar essa data com algo que me lembrasse para o resto da vida. Adaptei a obra para o nosso país e tem sido um dos grandes êxitos dos últimos anos, já tive cem mil espectadores em mais de 200 interpretações, sempre com casa cheia, e é o monólogo mais visto da história do teatro português. Desfrutei de noites gloriosas!


5 @ O que consideras ser inaceitável num ser humano?

R: A maldade!


6 @ Uma viagem de sonho contigo teria que país desconhecido ou cidade como destino?

R: Gostava muito de ir à Índia! Pela cultura…Essa viagem teria de ser feita com calma, 15 dias, at least. Também tenho curiosidade em conhecer a Austrália.


7 @ Qual o comediante ou actor português que satisfaz as tuas delícias?

R: Tenho vários, mas talvez o Herman seja o mais representativo. Divirto-me com o João Baião, cuja energia é inexplicável, com os “Gatos” e aquele tipo de humor político que antes ninguém fazia em Portugal.

8 @ Como é que consideras o nosso panorama cultural?

R: As coisas evoluíram muito desde que eu me estreei. Primeiro, estamos a fazer esta entrevista num teatro maravilhoso que há 20 anos não existia. Todas as cidades de Portugal, maiores e mais pequenas, e eu com o Paranormal tive a oportunidade de me aperceber disso, têm teatros muito melhores do que a capital. Antes, as pessoas não iam muito ao teatro, actualmente, com a massificação dos media o teatro está na moda.

9 @ Numa conjuntura de crise económica, pandemia, tensões bélicas e mundiais, a cultura deve ter um lugar de destaque na mente da classe política por ser uma necessidade básica do ser humano? Em que sentido?

R: Mal do povo que não preserva a sua cultura! Tanto que, a classe politica já reparou nesse pequeno grande pormenor! Ao povo tem de se dar pão e circo! Pão para o corpo e circo para o espírito.


10 @ Dizem que dentro da classe artística, os actores são os mais interessantes. Confirmas?

R: Completamente! Os actores são seres especiais e raros. São pessoas cultas, interessantes e observadoras.


11 @ Se a vida selvagem fosse um filme, uma vez que os cientistas alegaram, nos últimos tempos, que dois terços das espécies estão em risco de extinção, que animal interpretarias?

R: Um macaco! Ainda por cima é o meu signo chinês. Eu sou muito macaco! Os animais conseguem perceber quando alguém gosta verdadeiramente deles e os macacos, sobretudo, os amestrados, gostam muito de mim e vêm logo para a minha beira… São malucos, enérgicos e curiosos!


12 @ Se o Planeta Azul se extinguisse em 24 horas, o que aproveitarias para fazer no pouco tempo que te restasse?

R: Juntava os meus amigos, fazia uma festa de 24 horas e morríamos felizes…

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