16 de setembro de 2011

ALÍPIO TOMÉ PINTO

“A PAZ É SEMPRE O MELHOR BEM”

 

FACTOS

Nomeado: Alípio Tomé Pinto (ATP)
Naturalidade: Maçores, Torre de Moncorvo
Data de Nascimento: 14 – 01 – 1936  


INTRO: Carreira militar de apreço notável

Alípio Tomé Pinto foi promovido por distinção ao posto de major, com 30 anos de idade, em Julho de 1966, condecorado com a medalha de Valor Militar com palma e duas medalhas de prata de Serviços Distintos com palma e integrou o comando do 25 de Novembro que repôs a legalidade democrática. Foi, ainda, promovido a oficial general com 45 anos de idade e agraciado com o Grau de Cavaleiro do Império Britânico, Grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito da República Federal Alemã e Grã-Cruz da Ordem Militar do Rio Branco do Brasil. Comandou, também, a GNR a nível nacional e, enquanto Chefe do Estado-Maior na Madeira, nos anos 70, Alípio Tomé Pinto teve a trabalhar para si, como Oficial de Relações Públicas, o actual Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim.
Com um currículo interminável, estes são apenas e só alguns fragmentos de uma vida repleta de protagonismos e acontecimentos marcantes de carácter inefável que o ilustre maçorano experienciou, tendo calcorreado meio mundo na célebre diáspora portuguesa. 


ENTREVISTA
  
Jornal Nordeste (JN) – Foi somando feitos raros ao longo da sua impecável carreira militar. Que características o distinguiam dos seus pares que o possam ter levado a granjear tamanhos e incontáveis reconhecimentos?
ATP – Não sou a pessoa mais indicada para dizer das razões de excepção, já que ao longo da nossa carreira vamos sendo apreciados pelas chefias e comportamentos exercidos. Em 1957, iniciei a minha carreira em Mafra, procurando sempre cumprir com entusiasmo e dedicação as missões cometidas. Contudo, sem nunca deixar de manifestar as minhas opiniões aos chefes, quando o julgava necessário. Daí que em leitura atenta dos meus louvores, na maior parte, constarem as palavras “forte personalidade”. Nunca recusei nenhuma missão, mas a verdade é que só somos nós quando conseguíamos o apoio daqueles que comandávamos e a concordância das chefias. Depois trabalho, estudo, bom senso e entusiasmo foram condições indispensáveis. Talvez seja oportuno relembrar a estafada, mas válida frase, em que se diz que “O Homem é ele e as circunstâncias”. E eu posso dizer que me foram favoráveis e sempre os meus militares estiveram disponíveis para alcançarmos os objectivos que o Interesse Nacional impunha.
 
 
JN – Cumpriu missões em Angola e na Guiné. Já com um certo distanciamento sobre a Guerra Colonial, como é que analisa a intervenção portuguesa em solo africano? Tanto sacrifício teria sido mesmo necessário?
ATP – A resposta não pode traduzir-se num simples “sim” ou “não”, mas no desenrolar da vida de um povo com nove séculos de história feita de rasgos, sacrifícios e de desafios. Demos ao mundo novos mundos e isso não se fez por tratado ou convenções. Foi preciso percorrer esse mundo e deixar “a marca” que ainda hoje persiste e é
orgulho de muitos dos que por lá estão ou daqueles que daqui vão lendo e registando essa odisseia de um povo que ganhou identidade humanista e universalista. Primeiro, foi a ambição do Extremo Oriente, depois o Brasil e, finalmente, África, que a todos nos marcou. A questão Imperial, vivida muito em especial a partir da Conferência de Berlim (1885), não foi nada fácil para a política portuguesa (“sempre de calças na mão”), tendo, naquela data, alemães e ingleses como opositores, que privilegiaram o direito da ocupação pelo da conquista, válido até então. Foi difícil, assim, para Portugal, marcar e salvaguardar as fronteiras desses povos, ainda hoje válidas. A 1ª e 2ª Guerra Mundiais alteraram a face do mundo e após esta última, África acordou para as naturais independências.
  
Aos 25 anos de idade e após os acontecimentos de Angola, em 1961, ATP sofreu ferimentos tão graves que o capelão não hesitou em ministrar-lhe o Sacramento da Extrema-Unção.

Os políticos portugueses não souberam acompanhar esta evolução até porque era possível fazer-se em entendimento e não em luta. O atraso negocial não foi benéfico e surgiram as mortandades no norte de Angola, a que havia que responder militarmente para salvaguarda das populações e bens. No meu caso, fui mobilizado e bem. O depois poderia e deveria ter tomado outros rumos, muito em especial após a morte de Salazar.
Entretanto e com grande intensidade, provocou-se o desenvolvimento sócio-económico sem paralelo na nossa história. Atrevo-me a dizer que, caso não se tivesse processado esse desenvolvimento em muitos territórios dificilmente se falaria hoje o português e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) teria sido uma impossibilidade. Definitivamente, as mortes, os retornados e as guerras civis poderiam ter sido minoradas. Depois, surgiu o 25 de Abril de 74 com todas as suas consequências positivas e negativas. Respondo, então, que não há que ter complexos e que houve erros de muita gente e interesses de outros Povos que não eram os nossos, nem os de África.
Felizmente, encontrou-se a paz. Uma que espero duradoura para todos nós, sendo certo que nada justifica a morte de seres humanos, a não ser a ambição e a ignorância de muitos dos seus intervenientes.


JN – Consta-se que foi um dos intervenientes em dois momentos chave que levaram à consolidação da democracia em Portugal. Em que consistiu exactamente o seu papel?
 ATP – A questão do 25 de Abril de 74 e do 25 de Novembro de 75 é uma delas e já ocupou imensos livros. Eu recomendo a leitura do “25 de Novembro” de Freire Antunes, por me parecer desenhar com simplicidade e toda a verdade o quadro político militar que, então, se viveu. As velhas gerações recordam bem a “confusão” surgida no pós-25 de Abril de 74 que “obrigaria “ um grupo de oficiais a constituírem-se em grupo para planear e levar a bom termo a reposição da Democracia prometida, mas que estava em risco de não ser alcançada.
O meu papel, como o de alguns outros, foi o de participar no planeamento e execução das acções militares a levar a efeito, caso a situação se deteriorasse como veio a acontecer, após os acontecimentos do 11 de Março de 1975. Um dia que pôs em causa a segurança de pessoas e bens e colocou em risco a evolução democrática, numa tentativa de dificultar o processo eleitoral. A partir do Regimento de Comandos, um pequeno grupo onde eu me encontrava, eram difundidas as ordens operacionais após sancionamento pela Presidência da República. Foi imposto o “recolher obrigatório” durante três dias e após movimentações militares e civis que iam além de Lisboa e de alguns confrontos militares na região da capital, criaram-se as condições para que os objectivos nacionais definidos no Dia 25 de Abril viessem a ser cumpridos, inclusive o processo eleitoral. Mas não foi fácil! Posso acrescentar que a intervenção abrangeu actividades de instituições e partidos da área democrática.
 

 
Também na Guiné, na região de Binta, em 1964, ATP foi, de novo, ferido gravemente em combate.

JN – A 28 de Agosto de 1982 é escolhido para comandar a Guarda Nacional Republicana. Curiosamente, um ano antes do FMI entrar em Portugal pela segunda vez. Acha que a crise económica e os cortes a que a GNR tem sido sucessivamente sujeita pelos vários Governos, mais a reentrada do FMI, comprometem, de alguma forma, a sua operacionalidade?
ATP – Assumi o Comando da GNR em Agosto, tendo sido indigitado em Janeiro desse mesmo ano. Depois de ter feito o Comando de Santa Margarida não esperava tal convite e, inicialmente, coloquei algumas questões que o poder político e militar viriam a aceitar. Deram-me tempo para estudar outras forças similares da Europa e a história da própria GNR. A situação do país era tipo pós-revolução, estando em curso a Reforma Agrária no Alentejo, o desenvolvimento das Forças Populares 25 de Abril que provocariam alguns assassinatos e a própria GNR não tinha meios para se adaptar à nova situação. Foram quase seis anos de uma dura mas honrosa tarefa, onde tive o apoio total dos sucessivos governos e a dedicação dos Homens da Guarda que viviam uma situação de carência e a requererem uma reorganização profunda e o estabelecimento de Estatutos que não possuíam.
A presença do FMI nada tinha a ver, nem tem, com a situação na GNR. Traduz, antes, uma deficiente situação económica que poderá ter repercussões sociais que podem perturbar a ordem pública e como tal a GNR e outras forças poderão ser chamadas a intervir. Algo que é sempre desfavorável ao equilíbrio social que todos pretendemos alcançar. A Paz é sempre o melhor bem. A falta de meios financeiros ou outros terá sempre repercussão no seio destas instituições, afectando o seu moral e espírito de sacrifício perante as exigências da missão.
 
 
JN – Qual foi a campanha militar mais difícil em que participou?
ATP – Não dá para escolher, já que todas elas são difíceis. Em especial, quando temos a nosso cargo o comando das tropas. Por cada um dos militares, sentimo-nos responsáveis, quer nas questões logísticas, quer nas questões psíquicas e de combate. São sempre noites e dias longos. Em Angola e na Guiné vivi momentos preocupantes. Mais na Guiné, pois o adversário actuava num terreno próximo dos locais de refúgio além-fronteiras e com maior apoio internacional.
Do negativo, há que fazer positivo. O apoio prestado às populações, por exemplo, construindo um aldeamento, uma escola, um Posto de Socorro e outras condições que tornaram a região pacifica e com condições de vida própria a que não faltaram as sementeiras de arroz e amendoim, aumentava a nossa capacidade de resistência psíquica e de auto-estima. Foi esta política estratégica que nos levou a resistir e durar 13 anos em três teatros de operações a milhares de quilómetros de Lisboa.
Da guerra, tentávamos fazer a PAZ e, em Angola, quase o conseguimos, não fosse o falhanço da política.



JN – Da sua imaculada folha de serviços constam treze louvores ao nível de Ministro ou Oficial General, quinze condecorações nacionais e dez condecorações estrangeiras. Que é que significaram para si?
ATP – Condecorações e louvores traduzem sempre uma apreciação positiva e de incentivo. É usual dizer-se que não se pedem, mas não se recusam. Assim aconteceu comigo e acontece com a maioria. Quantificar ou valorar este apreço seria atitude menos digna, pelo que todas me merecem igual respeito por quem as concede e pelo que elas, a cada momento, representam. Recebidas por um, mas que, por vezes, são obra de muitos. Há que ter essa noção, sem falsas modéstias.


“Nas saudosas conversas com o meu Pai, ele me dizia: “faz sempre o Bem e dos outros antes inveja que Piedade.””
 
 
JN – Percorreu várias partes do mundo. De todos os países que visitou, que cultura considera como sendo a mais fascinante?
ATP – Uma curta questão que exigiria uma longa resposta, entrosada com a presença dos portugueses no mundo. Um número na ordem dos cinco milhões. Todos os locais nos deixam especiais recordações quando gostamos de conhecer o mundo. É difícil tal escolha, mas do modo como está feita a pergunta responderia Itália. Por razões dos Exercícios NATO e da Missão da Brigada Portuguesa tive que me deslocar ali várias vezes e calcorrear algum terreno. De Milão a Veneza, passando por Verona e Sirmioni (Lago dela Guardia), a paisagem é deslumbrante e mais bela se torna quando subimos e percorremos a região dos Alpes. As populações são de um nível cultural elevado e de excepcional convivência. Verona não são apenas os amores de Romeu e Julieta, mas tem um excepcional teatro romano ao ar livre funcionando durante o Verão com alguns dos melhores espectáculos europeus.
A meio caminho de Roma, temos Florença com o seu esplendor museológico que vale a pena visitar por dois ou três dias. Roma é o passado longínquo, um berço civilizacional, também, pleno de modernidade e bonitas mulheres que se passeiam pela via Veneto ao final da tarde. Mas há que visitar Nápoles e a alegria das suas gentes numa terrível confusão de transportes e de gritos. Próximo, temos a velha imagens da antiga Roma nas pequenas cidades de Herculano e Pompeia. Para os turistas, temos as belezas da costa malfitana e as famosas ilhas de ÍIsquia e Capri. 
Mas, para aqueles que querem recordar o Portugal de outros tempos, têm que procurar S. Salvador com as suas Igrejas carregadas de ouro e as pequenas cidades do interior do Estado de Minas Gerais. As suas ruas, telhados e janelas são a cópia do que se fazia nas nossas cidades do interior noutros tempos.
Já o verde de S. Tomé é único, como único é o pôr-do-sol visto na Tundavala, em Angola. Sentado numa pedra e em silêncio, é uma visão deslumbrante e um sentimento único.
Fascínio há em todo o mundo, desde que saibamos ver, observar e conversar. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa espalhada pelos quatro Continentes tem um pouco de tudo…. E de fascínio, sobretudo.
 
 
JN – Como é que os seus familiares, amigos e conterrâneos maçoranos viram a ascensão meteórica de um filho da terra a um dos mais prestigiados postos militares portugueses da sua geração?
ATP – Para não roubar mais tempo ao leitor e, sabendo eu, que o espaço da imprensa é sempre reduzido, limito-me a narrar duas situações por mim vividas que nos levam a ser daquelas terras e daquelas gentes para todo o sempre. Depois do meu ferimento em Angola, em 1961, ainda muito combalido, fui de visita à minha aldeia. Era Domingo e a igreja estava cheia. À saída, no adro, todo o povo se reuniu e pediram a minha atenção. Discursou o Sr. Albano Mendes como o mais velho e importante da aldeia, depois o ti Alípio do “soto” usando palavras buriladas pela frequência do Seminário, depois falou a Maria do Céu, minha colega de Escola Primária. Eu agradeci. A emoção, amizade e orgulho daqueles conterrâneos ficaram bem expressos no que me disseram e no acompanhamento que me fizeram até casa de meus pais.
Bem mais tarde, já Tenente General e, após ter feito o comando da GNR, o presidente da Câmara Municipal de Moncorvo, Aires Ferreira, desencadeou uma cerimónia de homenagem, onde apareceu gente de todas as aldeias vizinhas à minha, pessoas de todas as idades, mulheres de xaile e lenço do tempo de minha mãe que me beijavam como se mais um filho fosse. De Lisboa e Porto compareceram amigos, os meus ex-militares estavam presentes com os Guiões das Companhias e o Presidente da República se fez representar.

Forças Armadas Portugueses no "Royal Tournament" com ATP e a Rainha Elizabeth II


 Uma questão de fé

“Hoje, preocupa-me a actual situação de perda de valores e falência das elites. Lamento a falta de visão e o empobrecimento nas regiões fronteiriças, do esquecimento do mar, que é nossa Identidade; e só, tardiamente, se cuidar da vantagem de uma mais forte determinação no âmbito da CPLP, sem nunca deixarmos de ser os europeus que sempre fomos. Há que fazer renascer a esperança no reencontro com os outros e com nós mesmos e acreditar. Eu acredito!”, ATP
Alípio Tomé Pinto no "topo do mundo", representando a cultura transmontana ao defender a identidade nacional

15 de setembro de 2011

DUAS DÉCADAS DE PALCO

Sempre no activo desde a sua formação, em 1990, Stone Age é a banda mais antiga da cidade de Bragança


FACTOS

Banda: Stone Age
Procedência: Bragança
Formação: 1990
Facebook: Stone Age Bragança
Entrevistado: Marco Teixeira
Contacto/espectáculos: 934252833


ENTREVISTA

Jornal Nordeste: Como é que surgiu a ideia de vos juntardes? A formação inicial…
Marco Teixeira: Éramos um grupo de amigos que morava no mesmo bairro. Um tinha guitarra e depois eu decidi trabalhar no Verão para poder comprar uma bateria. A partir daí, juntámo-nos. Era uma formação diferente… Era o Rui Costa, o António Prada, o Abel Leite e eu, com 14 anos.

JN: Fala-nos do vosso reportório?
MT: O nosso reportório, actualmente, é constituído por 16, 17 temas. É um rock bastante alternativo, quase a dar ao punk. Conhecido, também, por Surfer Rock. Aquele rock dos anos 60, 70, muito eléctrico e ainda com mais atitude. São só originais! Temos duas músicas em português e o resto é em inglês.

JN: Quais foram ou quais são os vossos maiores êxitos?
MT: Como foram 20 anos, houve várias fases de êxitos. Por exemplo, quando a banda começou, o Abel Leite (baixista) tinha criado uns originais pesados com letras muito fortes. Foram os casos de “Chuis Cabeçudos”, um tema de contestação contra a forma repressiva da polícia actuar e “Tem cuidado com o pó”, que era contra as drogas. Na altura, essas músicas tiveram muita fama. Depois, em 98, quando eu comecei a cantar e o meu irmão passou a tocar baixo, fiz a “Sozinho, uma música que depois teve muita repercussão e que chegou mesmo a passar nas rádios da cidade.   

JN: Ainda ides por esses êxitos ao fundo do baú ou cingis-vos aos temas criados já pela actual formação?
MT: Como esta formação tem cerca de três, quatro anos, optámos por tocar só temas recentes e dentro desta linha alternativa do punk rock que estamos a criar. São concertos para uma hora e meia, sensivelmente. Claro que podemos prolongar a sua duração, pois temos muitas mais músicas que podemos encaixar no reportório como baladas e músicas com piano. E já fica um concerto diferente.

JN: Neste momento, fazes ideia de quantos originais tendes?
MT: Eu faço músicas desde 1990… O meu disco rígido deve ter cerca de 700. Com princípio, meio e fim, isto é, originais completamente arranjados, talvez uns 50. No reportório só estão 17, mas temos músicas para dar e vender.
  
JN: Sendo que é diferente para cada banda, como é que funciona o vosso processo de criação?
MT: O processo de criação começa por mim, em casa sozinho. Com os meus materiais tento fazer uma maqueta que, depois, levo ao grupo numa música já pré-estruturada. Coloco baixo, bateria e todos os instrumentos e, depois, o grupo ouve e tenta repercutir aquela que é a minha ideia, sendo que, nos ensaios, muitas vezes são sugeridas alterações ou introduzidos novos elementos. Ou seja, levo a música pré-formatada, mas depois cada elemento intervém na criação com ideias próprias, trabalhando sempre o tema enquanto grupo.

Stone Age protagonizou 3 actuações em 5 dias. A 9, nas Verbenas, a 11, em Miranda e a 14 no Klaustrus Bar, de regresso a Bragança

JN: De onde retirais a vossa inspiração? Ou melhor, quem são os vossos músicos ou bandas de referência?
MT: Para mim e para o meu irmão, o baixista, a nossa fonte de inspiração foi sempre o punk rock. Sex Pistols e Exploited, por exemplo, muita música da década de 70 e, claro, música portuguesa como Censurados e Mata Ratos. Essencialmente, música alternativa de combate, de contestação.

JN: Qual é que consideras ter sido o vosso maior concerto?
MT: O nosso maior concerto foi em Espanha, na única vez que representámos Portugal no estrangeiro. Pela primeira vez, actuámos para cerca de três mil pessoas em Cáceres, penso que em 2005, 2006. É um espectáculo que se realiza anualmente numa cidade diferente e que se intitula “Na ruta pela diversidad”. Fizemos a primeira parte de “Seguridad Social”, um grupo espanhol muito conhecido.
 
JN: Como reagiram “nuestros hermanos” ao som de Stone Age?
MT: A reacção foi excelente! Tanto assim que, no final, fizemos dois ou três encores e mesmo a população mais velha teve uma reacção fantástica. Depois do concerto, vieram falar connosco, elogiaram o nosso trabalho, pediram-nos autógrafos, aquelas coisas que nunca nos acontecem em Portugal.
 
JN: O que é que achas que continua a condicionar a arte e, sobretudo, os artistas, neste caso, vós, músicos, em Trás-os-Montes?
MT: O que condiciona mais é a falta de respeito pela ética da arte. Pela estrutura que é a arte em si mesma. E o respeito pelos músicos fica sempre muito aquém daquilo que eles podem vir a dar. Na cidade, há exemplos de pessoas que muito têm feito pela música e pelos músicos em geral. O Paulo Xavier da Junta de Freguesia da Sé é um exemplo, mas é preciso mais. Os artistas precisam de ser mais acarinhados, terem mais apoio por parte do público nos seus espectáculos e serem mais divulgados pelas rádios. Algo que não acontece neste momento, nesta cidade.

JN: O facto da vossa banda ser oriunda de Bragança e estar aqui sedeada, tolheu de alguma forma o seu potencial, bem como o seu próprio sucesso?
MT: Sem dúvida que a situação geográfica condicionou o nosso sucesso, mas não só. A nossa atitude passiva, de não querer dar o próximo passo, também condicionou um bocado as coisas.  

Para Marco (esq. na foto), o cenário musical transmontano evoluiu imenso, quer em quantidade, quer em qualidade
 
JN: Achas que se o vosso ponto de partida tivesse sido outro, digamos, Lisboa ou Porto, os Stone Age poderiam estar num outro patamar?
MT: Muito provavelmente poderíamos já ter gravado um ou dois álbuns e a nossa música estar a passar numa rádio nacional, tipo Antena3. Era o nosso objectivo. Sempre foi! Que a nossa música passasse nalgumas rádios portuguesas importantes.  

JN: Tendes já 21 anos de palco. Como é que justificas ainda não terdes gravado?
MT: Monetariamente, nunca nos foi possível irmos ao estrangeiro gravar, a Inglaterra, que era o nosso sonho. Mas gravámos em 96 um trabalho com 10 temas, cinco em português e cinco em inglês, criados por mim e pelo Abel. Gravámos 300 cassetes por cerca de 100 contos num estúdio de uma editora em Penafiel, que depois distribuímos pela cidade. Apesar de ser um rock muito forte, fomos bem aceites, mas não houve uma continuidade porque a banda acabou por se colapsar precisamente na altura em que estava melhor. Depois, surgiu com outra formação.

JN: Para quando o próximo álbum?
MT: Queremos concretizar um álbum com 12 temas que será gravado num estúdio com condições para um trabalho sério. De preferência, antes do Natal. Esse é o nosso objectivo. Editar dois mil álbuns e colocá-los nas FNAC e nalgumas rádios. Agora, vamos é ter de arranjar apoios financeiros. É o mais importante, mas também o mais difícil. Os concertos são outra forma de financiarmos a gravação do álbum. Conseguíamos fazê-lo em dois fins-de-semana, a gravarmos cinco músicas em cada. Temos de nos mexer!  

Actual formação:
 
Marco Teixeira aka Orelhas – Vocalista \ guitarra solo
Armando Teixeira aka Comando – Baixista
Mateus Pinheiro aka Bruce – Baterista
Carlos Sequeira – Guitarra ritmo


Marco Teixeira - Entrevistado



10 de setembro de 2011

MODA AO AR LIVRE

Mais que um desfile de moda, a Miss & Mister Emigrante Bragança Shopping foi um espectáculo de variedades

Prevista começar às 21:30, a eleição da Miss & Mister Emigrante Bragança Shopping começou com meia hora de atraso. Um mal menor, caso o espectáculo não demorasse aproximadamente três horas. Algo pesado, quer para estes jovens emigrantes, autênticos principiantes nos meandros da moda e sempre com os nervos à flor da pele, quer para o muito público que assistiu ao evento. A grande novidade deste ano foi mesmo a transferência do desfile para o espaço exterior, mais concretamente para a escadaria lateral que dá acesso à esplanada do Teatro.
Depois de Liliana Aguiar, em 2009, e da manequim Carla Matadinho, em 2010, esta 3ª edição teve como anfitrião da noite de sábado José Figueiras. Sempre bem disposto e com um sorriso, o apresentador televisivo cantou uma música tradicional do Minho e o famoso tirolês, conseguindo dar continuidade e consistência ao espectáculo. Como entertainner que é, soube improvisar quando necessário. Foi o que fez quando o futuro concorrente brigantino da Casa dos Segredos2, mais conhecido por Chanana, invadiu a passerelle para espanto de todos.


Entre os cinco participantes masculinos que chegaram à final, a classificação foi o seguinte: em terceiro, Pedro Sousa, em segundo, Artur Paiva; e Alex Morais foi eleito Mister Emigrante. Entre as dez concorrentes femininas, Margoux Montes foi eleita 2ª Dama de Honor e Vanessa Ramos conquistou o título de 1ª Dama de Honor. Na passerelle, a Miss Emigrante Bragança Shopping 2010, a espanhola Lorena Alonso, passou a coroa e o testemunho à vencedora de 2011, Cristina Petrova. Os três melhores classificados ganharam um vale de compras no valor de 100, 200 e 500 euros, respectivamente, para usarem no Bragança Shopping.
A outra novidade foi a eleição da Miss e Mister Simpatia. Ângela Fernandes foi escolhida pelas suas colegas concorrentes para Miss Simpatia. Já o vencedor masculino foi Alex Morais que, assim, acumulou os títulos de Mister Emigrante e Mister Simpatia.
Mas nem só de moda se fez a eleição da Miss & Mister Emigrante Bragança Shopping 2011. Entre os vários desfiles que se iam sucedendo, fossem num estilo casual, clássico, tradicional, em pijama, fato de banho ou bikini, houve alguns números que pretendiam entreter o público. A abrir o concurso, esteve uma performance de hip hop interpretada por Edvaldo. Sensivelmente, a meio do espectáculo, um par trouxe as danças de salão aos saltos, depois foi a vez de um dj mostrar o seu talento e a finalizar esteve um número de animação com jovens emigrantes como dançarinos de êxitos de Verão da pista de dança.
Para ajudar o júri na sua difícil tarefa, foram realizados os habituais questionários aos pretendentes a modelos, como de resto acontece em qualquer concurso de beleza que se preze. As perguntas e respostas, em muito simplificadas pelo anfitrião José Figueiras, não foram de fácil interpretação. Isto porque, apesar da sua origem transmontana, 8 das 10 concorrentes não falam português.




ARRAIAL ADIADO PELA TEMPESTADE

Condições meteorológicas atrasam por um dia a concretização da noite principal das Festas da cidade de Bragança
Como sempre acontece, todos os anos, o arraial deveria ter sido no domingo. Mas, pela primeira vez na história das Festas da Cidade de Bragança, a noite principal foi adiada para segunda-feira. O Instituto Português de Meteorologia havia avisado que, no continente, sobretudo, no interior norte, poderia haver aguaceiros fortes e trovoada. E se a população já esperava por um arraial molhado no domingo, o vento que se fez sentir fez daquela noite uma de tempestade em que o risco envolvido era demasiado. Rajadas fortes de vento poderiam interferir com as estruturas montadas em palco e mesmo a chuva tempestuosa poderia fazer perigar todo o evento já que água e energia eléctrica, simplesmente, não combinam.
Sem qualquer conhecimento prévio do adiamento do concerto de José Cid com Paulo Bragança, os populares rodeavam o Eixo Atlântico no domingo à noite, tentando perceber a falta de música e contribuindo para uma confusão generalizada. Perto da meia-noite, nas partes mais altas da cidade como, por exemplo, no Vale Chorido, centenas de carros esperavam pelo fogo-de-artifício. Fogo esse que não se concretizou, sendo adiado também por decisão da Câmara Municipal de Bragança (CMB) para a noite seguinte.



“As condições climatéricas não permitiram que o espectáculo se realizasse e, também, não era possível que as pessoas estivessem aqui a apanhar chuva durante o temporal. Ou se anulava ou se adiava. Decidimos, então, adiar para hoje”, justificou o edil brigantino, Jorge Nunes. Uma decisão que contou com o apoio de todas as entidades envolvidas. Inclusive, dos artistas que cederam, assim, aos caprichos meteorológicos. “Felizmente, houve a concordância simpática por parte dos músicos e do responsável pelo fogo-de-artifício e tudo se conjugou. São Pedro também ajudou e a noite esteve excelente”, enalteceu o presidente da CMB.
Apesar do evento ter sido adiado, certo é que o recinto do Eixo esteve completamente lotado no último dia das Festas da Cidade. No regresso tão aguardado de Paulo Bragança aos palcos, o fadista brigantino actuou em dueto com José Cid, emprestando a voz à sua alma e comovendo a saudade. Os presentes souberam reconhecer a importância do momento e aplaudiram o artista transmontano efusivamente.




AQUÉM DAS EXPECTATIVAS

Festa de Verão condicionada pela alteração de local, após autarquia brigantina negar licença para a sua concretização nas piscinas.
Registaram-se perto de cinco mil entradas na festa de Verão Bragança Live To Dance. Com um orçamento de 20 mil euros, Lucenzo foi o cabeça de cartaz de um público maioritariamente constituído por jovens emigrantes. Mas a “quality star” do evento não fascinou, repetindo ritmos numa actuação que não durou uma hora. Contudo, para os promotores da iniciativa, a aposta estaria ganha se tudo tivesse decorrido como inicialmente planeado. A festa estaria prevista acontecer nas Piscinas do Clube Académico de Bragança. No entanto, a autarquia negou o pedido da Associação Académica do Instituto Politécnico de Bragança (AAIPB), entidade organizadora, e o evento teve, assim, de ser transferido para o NERBA. Um espaço fechado que pouco ou nada a ver tem com uma festa de Verão, onde dois dos maiores requisitos são, precisamente, a água e o ar-livre. O cenário idílico traduzido nas piscinas viu-se, desta forma, manietado por um contratempo que deixou a organização, no mínimo, insatisfeita. “Pretendíamos que esta fosse uma festa de Verão, mas não num sítio coberto. Não era bem aquilo que nós queríamos, mas somos persistentes e vamos até ao fim”, afirmou o presidente da AAIPB, Rui Sousa. “Se a festa tivesse sido no local inicial, não duvido que teríamos o dobro ou o triplo das pessoas”, confessa o responsável. Questionado sobre qual a justificação dada pela autarquia, Rui referiu que há três versões distintas. “Eu já ouvi três versões diferentes porque é que a festa não foi nas piscinas. A versão que me deram a mim, ao Académico e a que corre na cidade. A mim disseram-me que foi por causa de queixas dos vizinhos”, explicou.
Na opinião de Rui Sousa, se algo de positivo surgiu deste evento foi a união das duas discotecas concorrentes da cidade, que, nesta iniciativa, colaboraram em uníssono para o mesmo objectivo. “A ideia partiu da AA e lançámos o desafio às discotecas da cidade. É uma coisa engraçada e que as pessoas até devem ter orgulho que é juntar as duas casas comerciais da noite para organizar este evento”, afirmou. Mas nem a união das duas casas mais requisitadas da noite brigantina fez lotar o NERBA ou convencer a autarquia. Com entradas a 7 euros, o espaço parecia quase vazio. Um facto que se deve à grande amplitude das instalações, apesar de se terem vendido centenas de ingressos.
“Se elas trazem certos nomes às suas casas, porque não juntarem-se as duas e trazerem uma coisa melhor para fazermos uma festa maior. Bragança merece!”, defendeu o dirigente máximo da academia.