30 de janeiro de 2019

Desafio, competir, “ultrapassar”, vencer


Tiago Rafael Sarmento João, mais conhecido nas pistas de corrida por Rafa, começou a andar de mota no final de abril com, apenas, sete anos e tendo, logo, participado em duas corridas da Classe Mini-Motos ou Pocket-Bikes, a 9 de setembro em Baltar, Porto, e a 21 de outubro em Chaves, naquela que foi a última prova do campeonato, o "#56" é, muito provavelmente, o piloto de motas mais jovem em Trás-os-Montes alguma vez federado.    



Quem diria que alguém com sete anos de idade pudesse começar a aprender a andar de mota no final de abril e passados quatro meses já estivesse em competição? Pois é… Ninguém diria! Mas, de facto, aconteceu e aconteceu com alguém nascido aqui, em Terras de Trás-os-Montes. O seu nome, Tiago Rafael Sarmento João, mais conhecido, entre amigos, por Tiago, mais conhecido, nas corridas, por Rafa.

Influenciado, talvez, pelo pai, pois também ele correu, em 2012, no Campeonato Nacional de Velocidade, quando Tiago tinha, apenas, dois anos, a verdade é que Tiago sempre viveu imerso na paixão das duas rodas, da velocidade, da adrenalina, do asfalto e das motas de pista.

Por isso, foi apenas natural quando, aos sete anos, sem qualquer medo ou tipo de receio, decidu subir para a mota. “Parecia que tinha nascido para andar”, assegura o pai. E foi tão seguro e confiante de si que, de reconhecida a sua aptidão inata até à decisão de o federar para, assim, poder começar a correr em pista, já que é obrigatório, foi um passo muito curto, tão curto como três meses.

Federado no mês de julho pela Federação Portuguesa de Motociclismo, a sua estreia na Classe Mini-Motos, cujas provas acontecem sempre aquando de uma corrida do Campeonato Nacional de Supermoto, decorreu em Baltar, no Porto, a 9 de setembro, quatro meses após ter aprendido a andar de mota e quando faltavam, apenas, duas provas para o final do campeonato.



Nascido a 6/12/2010, Tiago completa hoje oito anos de vida. Mas, apenas, com sete, o número 56 foi certamente o piloto de motas mais novo de sempre de Trás-os-Montes a ser federado.



“O meu pai perguntou-me se queria começar, eu disse que sim e tem corrido bem”, desvenda o menino que vê em Marc Marquez um ídolo, afirmando, sem pestanejar, que aquilo que mais gosta nas corridas é “ultrapassar”. Mas a primeira corrida não lhe correu de feição, pelo menos, não o início. O pai, Carlos João, recorda o sucedido: “mal começaram os treinos, mal entrou em pista, ia ceguinho atrás dos outros e caiu logo na primeira curva”, conta, sublinhando a natural “falta de experiência” do filho. “Quando fomos a Baltar, a sua primeira corrida, ele teve grandes dificuldades em acompanhar os outros miúdos, mas, ainda, conseguiu até ultrapassar alguns, só que, derivado ao nervosismo, de ser tudo novo e de ver um kartódromo com público, aquele barulho dos motores e, depois, eu tive de trabalhar no sábado, enquanto os outros miúdos treinaram na pista o dia inteiro. Claro que ele queria fazer a mesma coisa que os outros faziam, mas não era capaz porque não conhecia a pista, não tinha a mesma experiência deles e mesmo assim queria ir atrás deles, por isso começou logo aprender que as coisas não são fáceis, que as motas mordem e que a inexperiência é difícil, mas faz parte do processo de aprendizagem”, exprime o progenitor, perante um “seu” Tiago mais que atento.

Por sua vez, o filho, volta atrás no tempo para reviver cada momento: “em Baltar, estava nos treinos e caí na primeira curva, tinha os pneus frios” justifica, “depois, estava lá um senhor a dar-me dicas e continuei”. A esse respeito, Carlos aproveita para realçar a importância da afirmação que o seu filho havia proferido. “Isto que ele acabou agora mesmo de dizer, “caiu e teve um senhor que estava lá a dar dicas”, somos nós, nós pais temos sempre que ir com os miúdos e, depois, há os monitores, e todos nós ajudamo-nos uns aos outros”, refere Carlos João, que aproveita para exemplificar, “eu dou dicas ao filho de outro, outro dá dicas ao meu e o que aconteceu com ele foi a inexperiência e a vontade que tinha de mostrar”.



 “Esquecendo os resultados, para mim, enquanto pai, o que me interessa, acima de tudo, é vê-lo feliz. Aliás, sempre que ele vai para a pista só lhe digo uma coisa: diverte-te!”



Apesar da queda, Tiago assevera que não se magoou, nem nesse, nem noutras que se sucederam depois. Nunca me magoo”, garante, convicto, apesar de, já em Chaves, a 21 de outubro, naquela que foi a última prova do Campeonato de Pocket-Bikes, o piloto de motas confidenciar que teve “um bocadinho de medo” ao pegar na mota, depois de ter caído.

“Começámos a andar logo, a pista era um bocadinho lixada, mas treinei alguns dias e ainda treinei no dia antes da corrida e foi fixe”, exprime, ainda no alto dos seus sete aninhos. Perguntei-lhe, então, o que o levava a continuar após uma queda, o que o levava a pegar novamente na mota depois de cair várias vezes. Ao que Tiago respondeu, simples e objetivamente, “querer continuar, querer aprender”.

Na última prova do ano, o menino de sete anos conseguiu um honroso sexto lugar entre nove pilotos, sobretudo, para quem havia começado a aprender a andar de mota há seis meses e a competir há pouco mais de um mês. Contudo, o jovem talento ressalva que “se não fossem os pneus, acho que tinha ficado em quarto”.

experiencia dele, já é diferente lá em chaves, já estava a andar de uma maneira muito a frente, e da segunda vez, da segunda prova que ele vai já estava habituado a isso, , por isso, é mesmo esta parte a ideia que eles tiveram foi muito boa, começaram agora, acho que havia de haver mais miúdos, eu vejo por ele a experiencia, aprende muito com os outros, ainda tem muito para aprender,

“Na segunda prova, em Chaves, tudo foi diferente, conseguimos ir um dia antes e já o Tiago tinha andado nesse kartódromo. Aí notei, logo, a diferença no andamento, já não lhe metia confusão andar no meio deles, já travava ao lado deles, já os ultrapassava, já o ultrapassavam a ele e é este conquistar de experiência que é tão importante. Mas, depois, tivemos um problema por causa dos pneus, que não eram os melhores e cada vez que ele dava dez voltas começavam a derreter e ele caia”, descreve Carlos João que, por esse motivo, “teve de montar um punho para reduzir o andamento da moto”. No entanto e, apesar de Tiago ter sido obrigado a “andar muito mais devagar, mesmo assim, fez uma excelente prova”, remata.

Até porque, para o pai babado, os resultados, nesta fase, pouco ou nada interessam. Tudo aquilo que o militar da Guarda Nacional Republicana deseja para o seu filho é “vê-lo feliz”. Tanto assim que, “sempre que ele vai para a pista, só lhe digo uma coisa: diverte-te”, assevera, confidenciando que “esta não é a idade para exercer sobre ele qualquer tipo de pressão”, até porque, reitera, “se o miúdo não se estiver a divertir a determinada velocidade, só tem de reduzir porque, nesta fase, não é a competição que importa, ele está lá, pura e simplesmente, para se divertir e aprender e, depois, com a aprendizagem lá havemos de chegar”.

E é precisamente isso que Tiago procura fazer. Com os erros, Tiago procura aprender. “A próxima corrida não sei onde vai ser, mas já sei o que fiz mal para depois tentar fazer melhor e oiço também os conselhos do meu pai e das outras pessoas”, manifesta o único piloto a representar a região transmontana no campeonato.



Patrocínios precisam-se para o sonho do único piloto transmontano na Classe Mini-Motos continuar bem vivo…



Quanto a amigos, tão importantes nestas tenras idades, o menino das corridas deslinda como seria de esperar que anda “sempre na brincadeira” com os restantes colegas, especialmente, com o David, de nove anos, e o Afonso, de cinco. E apesar de não falar com os espanhóis, a verdade é que se dá bem com todos, sem exceção. “Tem lá dois bons amigos e o David, por exemplo, já tem muita experiência, já anda mais do que o meu filho e está-o sempre a ajudar”, complementa o pai quase que automaticamente como quem lê o pensamento de quem tão bem conhece.

Com uma pista dividida em 80 por cento alcatrão e 20 por cento terra, a classe de Tiago contou no ano transato com seis provas em kartódromos espalhados pelo país, apesar do jovem piloto transmontano ter corrido, somente, em duas. Dos nove pilotos nas Pocket-Bikes, cinco são espanhóis. Mas mais importa, ainda, salientar, o facto de que entre os quatro portugueses, Tiago é o único, de momento, a não frequentar qualquer escola de motociclismo.

“O campeonato, este ano, serve para eles aprenderem e a verdade é que ele está a aprender, de dia para dia, de prova para prova, e ele aprende é a conviver com os colegas porque eles treinam em escolas de motociclismo, treinam de uma forma assídua e o Tiago não”, argumenta Carlos João, ciente da dura realidade que um jovem piloto nascido em Trás-os-Montes terá de enfrentar, caso deseje singrar no motociclismo nacional.  

Questionado sobre as alterações a serem introduzidas, já em 2019, com um sistema de pontuação, algo que não existia até então, o pai de Tiago planeia “aliviar a pressão”, mantendo o mesmo tipo de pensamento predominante.  “Na minha perspetiva, enquanto pai e chefe de equipa, eu só quero que ele se divirta”, reitera, tendo plena consciência que “a primeira vitória dele foi estar lá, ter coragem de competir, a segunda vitória foi acabar a corrida, a terceira vitória é acabar em último e, depois, terá de haver muitas vitórias até chegar ao primeiro lugar”.



Carlos João confirma que trará a Bragança, a curto prazo, “uma prova de pré-época dos miúdos e existem fortes possibilidades de trazer uma oficial também”



Sendo um desporto motorizado que envolve custos elevados, Carlos João pondera o futuro. “A nível de equipamento, as motas rondam os mil euros, depois há as deslocações, refeições e estadias”, contabiliza, aproveitando para agradecer aos patrocinadores (ver galeria fotográfica), cujo suporte é essencial para a permanência desta equipa transmontana no campeonato. “Claro que com apoios torna-se muito mais fácil. Este ano, tivemos amigos que nos ajudaram e foi graças a eles que conseguimos fazer as provas e, em 2019, vamos tentar um bocadinho mais, visto que o campeonato vai ser muito maior e pretendemos fazer o campeonato todo”, adianta Carlos João, revelando que terão, ainda, “outro tipo de material que não tivemos este ano e quero ver se consigo e tenho possibilidades de o levar a treinar, pelo menos duas ou três vezes, junto às escolas de Espanha, onde poderá treinar com outros miúdos”, ambiciona, sendo que a escola mais próxima é em Porrino, na Galiza. Outro apoio fundamental, no próximo ano, seria o da autarquia, admite, até porque Carlos João confirma que trará a Bragança, a curto prazo, “uma prova de pré-época dos miúdos e existem fortes possibilidades de trazer uma oficial também”.

COMO TUDO COMEÇOU (o Pai…):



“Começou a andar de mota, inícios de abril, por aí… Quando começou o bom tempo, ele começou a andar! Tinha a pocket-bike desde que nasceu e estive sempre à espera do momento ideal, em que ele tivesse a idade certa e de conseguir, também, juntar algum dinheiro para ter o material porque eu não queria que ele andasse de mota sem o material completo. Fato, luvas, capacete, segurança acima de tudo. E começou a andar, primeiro a direito, depois, a desviar-se de uns cones. A segunda vez que andou a desviar-se dos cones, perguntei-lhe a ver se ele queria experimentar a pista do kartódromo de Bragança.



“Quando era mais novo”, sim, bem antes dos sete anos, Tiago lembra-se de, andar com o pai na mota (ver primeiras fotos da galeria fotográfica). Na sua opinião, pode ter sido isso que o levou a gostar tanto de motas.



Começou, então, a andar no kartódromo e com os cones ele lá andava à volta deles, devagarinho, mas com uma felicidade tremenda. A verdade é que lhe custou mais a andar de bicicleta do que de mota, isso é garantido. Pegou na motinha e foi por ali fora, começou a ganhar cada vez mais confiança, até que fomos para o kartódromo. Quando chegou, começou a andar cada vez mais rápido. Como já conhecia a pessoa responsável pelo Campeonato Nacional de Supermoto, de ter corrido no nacional de velocidade, onde se insere a classe dele, falei com ele sobre como é que funcionava, como era o campeonato e o que era preciso. Ele explicou-me que, principalmente, este primeiro ano servia, única e simplesmente, para os miúdos se familiarizarem com o campeonato, com as pistas, darem-se uns com os outros e eu, sinceramente, gostei da ideia. Falei com o meu miúdo, perguntei-lhe se queria experimentar e ele disse-me que sim. A minha disponibilidade, quer financeira, quer de tempo, não era muita, mas conseguimos fazer as duas últimas provas do campeonato. E não nos podemos esquecer que o Tiago, só no final de abril é que aprendeu a andar de mota, e ter conseguido um sexto lugar com pilotos muito mais experientes que ele é qualquer coisa especial, sobretudo, quando só corria há cerca de seis meses.”



AS EXPETATIVAS…



“Sinceramente, as minhas expectativas, em relação a ele, foram superadas a todos os níveis. Quer em termos de aprendizagem, a rapidez com que está aprender, desde a posição de condução, onde colocar os pés, a maneira de olhar, a maneira de estar em cima da mota… Eu não lhe posso pedir mais, não posso, isso ganha-se com as escolas, ganha-se com outros miúdos, o grande problema com que eu me deparo é a motivação dele nos treinos, não é quando estamos nas corridas. Aí motivação tem ele que sobra, quando corre com os outros. O problema é quando está sozinho, dá quatro ou cinco voltas no kartódromo e fica logo cansado, farto, diria mesmo, perde a motivação, coisa que estando com outros miúdos não acontece, pois é tudo mais fácil, estando com outros miúdos a motivação é diferente.

No próximo ano, as expetativas serão as mesmas. Só quero que vá, se divirta e o que vier será bom, independentemente do lugar. Para mim, seria muito bom conseguirmos fazer todas as provas. E conhecendo os outros pais, acho que pensam da mesma maneira que eu, isto é, fazemos isto pelos nosso filhos, pois é algo que eles adoram e onde estão, constantemente, a aprender.



OS PERIGOS



“Quase todas as pessoas têm um medo não justificado dos desportos motorizados. Claro que esta carreira tem os seus perigos, não o nego, mas a verdade é que são muito minimizados por todas as condições de segurança exigidas para a sua prática. Nos kartódromos, existem os melhores equipamentos, são disponibilizados cuidados médicos imediatos no caso de alguém cair e considero que, nesse aspeto, quer a Federação, quer a organização do Campeonato Nacional de Supermoto, estiveram muito bem.

Agora, claro que eu tenho medo, tenho medo que ele se aleije, até porque só a começar, mas o que me convenceu a mim foi, precisamente, o próprio formato do campeonato, o facto de não haver competição, entre aspas, a ideia de os integrarem, a ideia de competirem a brincar, a ideia de independentemente o lugar onde terminem a prova, não existirem vencedores, nem vencidos, o prémio ser igual para o miúdo que ganha como para os que perdem, o que acaba por ser excelente para os garotos, sobretudo, para quem começa de novo como o meu Tiago.”



SIGAM O MENINO CUJA GARRA E ATITUDE PROMETEM DAR QUE FALAR NOS PRÓXIMOS ANOS EM: https://www.facebook.com/TeamRafa56/

Sem comentários:

Enviar um comentário