13 de junho de 2011

HOMENS DA LUTA


“O Festival da Canção é bué gay”

FACTOS

Nomeados: Homens da Luta
Entrevistado: Nuno Duarte (Gel)
Ocasião: Semana Académica de Bragança
Dia: Segunda-feira

ENTREVISTA

1 @ Actuastes recentemente no Festival da Eurovisão. O que é que representou para vós essa participação?

R: Foi especial. Primeiro, porque concorremos primeiro aqui ao Festival da Canção português e ganhámos. Os nossos fãs votaram massivamente e, também, algumas capitais de distrito como Bragança, que nos deu 12 pontos e que nós não esquecemos. Ao ganharmos, caiu sobre nós uma responsabilidade em que tínhamos de fazer a melhor figura possível dentro da nossa linha e levámos uma canção que fez da nossa presença algo completamente extraterrestre dentro do festival. Mas nós, nem por isso deixámos de pensar que podíamos fazer boa figura. Embora, fossemos completamente fora de tudo aquilo, cantávamos na nossa língua que éramos praticamente os únicos a fazer isso, com música tradicional e acho que correu muito bem. Não passámos à final, também isso não era o mais importante, mas conseguimos passar a nossa mensagem e, sobretudo, conseguimos fazer com que a malta que nos segue e gosta de nós se sentisse orgulhosa porque fomos para lá iguais a nós mesmos.
Queremos, sobretudo, manter esta relação muito especial com a malta que gosta de nós. E isso é muito raro acontecer. Nós chegámos anteontem ao aeroporto e estava pessoal à nossa espera a aplaudir-nos e nós nem passámos à final, nem ganhámos aquilo. Ou seja, há cenas mais importantes e isso valeu bué a pena.


2 @ Tivestes um voto de confiança dos portugueses, mas, depois da vossa actuação no Festival, houve quem vos criticasse pelo facto de terdes ficado muito estáticos em palco. Aquilo foi uma ordem da produção ou foi uma opção vossa?

R: Não, aquilo foi uma atitude nossa. Primeiro, porque a gente não sabe dançar. Em segundo, porque queríamos manter o número muito simples. Também já sabíamos que ia haver muita dança nos outros números, portanto, a gente tinha que marcar ali uma certa diferença. Mas aprendemos. Sobretudo, aprendi uma coisa que eu não sabia. É que o Festival da Canção é bué gay. E eu não tenho nada contra os gays, mas nós estávamos um bocado de fora. Vamos ter de apurar isso. Acho que para o ano vamos fazer uma coisa mais dentro do espírito deles e a gozar um bocadinho também com a coisa. É engraçado que, mesmo em Portugal, bué fãs do Festival são gays. Mas são gays muito conservadores, que é uma cena que estranho bué. Pedem o direito à diferença, mas, depois, quando aparece alguém diferente no meio deles, eles não gostam. E então eu acho que para o ano podemos ir por aí. Mas não posso adiantar mais.

3 @ Em 2010, fostes desclassificados do Festival. Voltastes a concorrer este ano e, em 2012, já afirmaste que ireis regressar. Correcto?

R: Sim. Ainda vamos ter de pensar o que vamos fazer, mas vamos. Porque vamos defender o título. Isto é como o boxe. Ganhámos o título, agora vamos ter de o defender. Se há coisa que os Homens da Luta representam é pro-actividade. Tipo, ir às cenas, mesmo que às vezes não tenhas hipótese nenhuma de ganhar. Mas vais na mesma e vais e vais e vais e os Homens da Luta têm sido um bocado isso, a teimosia, a persistência. Vamos e chateamos os gajos e continuamos e pum, pum, e há bué da malta que não gosta e há bué da malta que gosta e o pessoal discute se eles são da intervenção ou se estão só a gozar. Isto é bué da forte e a gente está completamente a surfar isto na boa. Isto começou só eu e o meu irmão, mas, hoje, temos uma equipe e esta malta trabalha connosco. Portanto, isto agora transformou-se já num modo de vida nosso e a gente continua, veste a camisola.


4 @ Em 2012, ireis manter o mesmo boneco do PREC ou estais a pensar adoptar um formato diferente?

R: Acho que vamos concorrer com os Homens da Luta, mas, também, acho que, se calhar, faz sentido o Carlinhos, o Machista Gay, concorrer. E até, se calhar, o Wanderlei, o brasileiro, também pode ter uma música. Ou seja, a gente vai tomar aquilo de assalto. Porque vale a pena. Vale a pena por uma cena: nós temos alguma facilidade porque vimos da televisão, mas sabemos bem que, hoje em dia, é muito difícil viver da música em Portugal. É um país muito pequeno, depois não se ganha dinheiro a vender discos e os concertos não são assim tantos para o número de bandas que há. Portanto, acho que não se pode desperdiçar nada. Uma cena como o Festival da Canção para nós foi muito bom. Vendemos concertos, mostrámos a nossa música, mostrámos fatos novos, uma atitude, aparecemos. Não estamos numa altura de preconceitos. Há muita malta da música que é bué preconceituosa. Lançam um disco e depois dizem que ninguém lhes dá atenção, mas depois recusam um convite para ir ao programa da manhã do Goucha. Têm vergonha, parece mal. Ao Festival da Canção também não vão, mas depois queixam-se. A gente não se queixa, a gente vai. Às tantas, vamos tantas vezes que um dia, se calhar, até ganhamos um Eurovisão, quem sabe? Fartam-se de nós e pronto, toma lá a taça.


5 @ Ao nível da mensagem, “A Luta é alegria” é muito semelhante à música do Bob Marley: Get Up, Stand Up. Será que um estilo mais reggae poderá ser uma possibilidade para o próximo festival?

R: Eu acho que há mais possibilidades. Mas já andamos a pensar nisso. Andamos com os Homens da Luta há dois anos, se calhar vamos andar mais um ou dois anos. Depois, vai chegar uma altura, em que vamos ter de reformar a coisa. Eu, hoje em dia, sinto-me mais próximo da música africana do que da música jamaicana. Também gosto de reggae, mas sem dúvida que a cultura negra interessa-nos. Também, na Luta, a gente já mete um bocado disso, mas interessa-nos. Tanto a cultura negra, como a cultura gay, como a cultura junkie, interessa-nos tudo o que são franjas. E então é possível que a gente a seguir vá para uma coisa mais tropical, mais sexual.


6 @ Em 2010, os Homens da Luta lançaram o álbum “A cantiga é uma arma”com 14 temas. Tendes o objectivo de lançar no mercado discográfico outro trabalho?

R: Sim. Para o ano vamos fazer mais um álbum com os Homens da Luta. Não sei em que formato será esse álbum, nem como é que vai ser lançado. Mas vamos fazê-lo. E, depois, logo se vê.




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