10 de dezembro de 2010

TRADIÇÃO DE FUTURO

Jovens da região transmontana aderem cada vez mais ao instrumento tradicional que é a Gaita-de-foles

Das terras de Sendim, parte o saber dos antigos. Arranca de Miranda do Douro e o som dos seus antepassados ecoam por entre montes. A Gaita-de-foles atinge, hoje, a região em pleno e relembra-lhe a cultura e o misticismo das suas gentes. Desde o raiar de um novo século, que o instrumento tradicional que caracteriza, não só Trás-os-Montes, com também Portugal, tem vindo a conquistar fervorosos adeptos. Inclusive, entre os mais jovens. A paixão nasceu! Uma que não vibra, apenas, pela Gaita-de-foles, mas pela música tradicional em geral.
Margarida Guimarães Moreira toca desde os seus seis anos. Actualmente, com nove, confessa: “Vi uma vez um rapaz a tocar e entusiasmei-me. Agora, gosto muito!”. Também Tiago Rodrigues, de 15 anos, aderiu recentemente “ao movimento”, desde Fevereiro de 2010. “Sou novo nisto, mas está a ser uma experiência muito boa! Vou, de certeza, continuar”, admite o adolescente. “Comecei a tocar porque é um instrumento tradicional da nossa terra. Eu sou da aldeia de Sacoias e na Festa dos Rapazes, tocam sempre e eu incentivei-me e vim aprender”, afirma.
Ambos os jovens, aprendem os secretismos do instrumento no Conservatório de Bragança. O seu professor, Paulo Preto, é um dos três elementos do Galandum Galundaina. Um dos grupos de música anciã que serve de inspiração e modelo aos pequenos e não tão pequenos aprendizes.


A título particular e colectivo, Paulo tem sido um dos grandes impulsionadores da Gaita-de-foles. “Temos de divulgar aquele que era o instrumento rei da nossa região e que estava completamente perdido há 14 anos. E, hoje, temos a juventude aqui em grande força a tocar e já a fazer o seu percurso tradicional”, desvenda o docente de há duas décadas. Para além das crianças da classe de Gaita-de-foles no Conservatório, Paulo Preto ensina Educação Musical no Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros, onde tem um clube de Gaita-de-foles.
“Aquilo que é nosso tem de ser valorizado como tal porque a música tradicional faz parte da nossa vida. Fez parte da cultura dos nossos pais. É através da música, de toda a cultura tradicional, que nós podemos dizer que somos daqui ou dali...”, defende.
Festivais como o Intercéltico de Sendim têm, também, contribuído, decisivamente, para a criação do movimento em prol da música tradicional. Na sua origem, esteve Paulo com Mário Correia. Os primeiros produtores do Festival.
“Temos tanto orgulho em ser transmontanos, mas porquê? Porque nascemos em Trás-os-Montes? Não! Por causa na nossa cultura e há que preserva-la! Única e simplesmente! Alguém tem de o fazer.. Na parte musical, pode ser, por exemplo, o Galandum Galundaina. Há outros que preservam a língua, a gastronomia...”, diz, convicto, Paulo Preto. Nascido em Sendim, tem cumprido bem o seu papel na imortalização da cultura musical transmontana, através da padronização da gaita portuguesa.

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