22 de abril de 2011

ARTE DESPIDA DE PRECONCEITOS

A peça Pedro e Inês talvez tenha sido o momento alto do Festival Vinte e Sete, a que se seguiu Estilhaços de Cesariny

Para maiores de 16 anos, a representação de um período tortuoso do nosso passado chegou ao Teatro Municipal de Bragança (TMB) a 9 de Abril. Pretendendo revisitar a história de Pedro e Inês, e partindo do texto inédito “Inês morre”, de Miguel Jesus, o Teatro O bando desafiou o encenador russo Anatoly Praudin a criar um espectáculo no qual a sua visão externa pudesse levantar novas inquietações sobre este mito nacional. De forma que, influenciado por outras tradições literárias, o director do Experimental Stage of Baltic House, de S. Petersburgo, pudesse trazer algo de novo a uma história profundamente enraizada na cultura portuguesa. Na tentativa de promover, também, o contacto com novos autores portugueses, foi pedido ao autor Miguel Jesus que criasse um texto inédito para esta produção. Num registo dramático e realista que caminha progressivamente para o poético e para o metafórico, o texto actualiza esta temática conferindo-lhe um cariz intemporal que explora sobretudo as relações de culpa e de vingança que se estabelecem entre os vários personagens envolvidos no assassinato de Inês. Os actores Estêvão Antunes, Helena Afonso, Horácio Manuel, Ivo Alexandre, Miguel Borges, Sara de Castro e Susana Blazer emprestam a sua voz ao texto e entregam os seus corpos desnudos à arte numa peça teatral que tomou, aproximadamente, duas horas e 15 minutos. Fundado em 1974 e constituindo-se como uma das mais antigas cooperativas culturais do país, o Teatro O Bando fez a ante-estreia nacional de Pedro e Inês no Centro Cultural Vila Flor.


Integrado, também, na sétima edição do Vinte e Sete, esteve o monólogo poético de Adolfo Luxúria Canibal. O spoken word Estilhaços de Cesariny lotou a Caixa de Palco do TMB. Um espectáculo onde o vocalista dos Mão Morta lê alguns textos e poemas, essencialmente, de Mário Cesariny. Com uma escolha poética aquém das expectativas, não pelo escritor em questão, mas pelos poemas decididos interpretar, o tom monocórdico de Luxúria Canibal foi salvo pelos músicos que o acompanharam. Ao piano, António Rafael, também Mão Morta, Henrique Fernandes e Jorge Coelho (Zen e Mesa) garantiram o sucesso de uma noite que se quis poética, mas acabou por ser mais musical.
Curiosamente, a 27 de Abril, em Bragança, dar-se-á por terminado o Festival Internacional de Teatro Vinte e Sete, com “Balada para Carrinho de Bebé”.

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