“Pare, Escute, Olhe”, de Jorge Pelicano, apresentado pela primeira vez aos seus protagonistas
A apresentação do filme “Pare, Escute, Olhe” aos seus protagonistas, que viram, pela primeira vez, “as suas estórias reflectidas numa tela”, aconteceu no esgotado Centro Cultural de Mirandela, dia 14 de Novembro.
Realizada por Jorge Pelicano, esta longa-metragem com, sensivelmente, 90 minutos, destaca-se como sendo um documentário interventivo, “que assume o ângulo do povo para traçar um retrato profundo de Trás-os-Montes”.
Este segundo filme, que estreará em Janeiro de 2010, é a continuação de um trabalho iniciado com a sua primeira película “Ainda há pastores”, rodado na Serra da Estrela. Isto porque, o realizador queria manter o tema do despovoamento. “Falar no encerramento das linhas férreas nesta região significa falar do despovoamento. Quando o comboio desaparece é porque já não há pessoas. É uma espécie de metáfora para falar neste problema que afligem tanta gente”, garante Jorge Pelicano.
“O objectivo era dar o lado que não aparece nas televisões, a vida dos que vivem próximos da linha e perceber qual a utilidade deste comboio para as pessoas. Dar uma outra visão, não para criticar os outros mas, essencialmente, para que as pessoas reflictam. Para onde caminhamos? Que futuro?”, questiona o realizador.
“Região esquecida e despovoada, vítima de promessas politicas incumpridas… A identidade do povo transmontano está em risco de submergir”
Segundo o autor, “este é um património único e, por isso, pode e deve ser rentabilizado. Não há outro semelhante em Portugal. Acreditem! Isto pode ser estruturado para criar riqueza, de forma, a fixar pessoas em Trás-os-Montes. Sem opções de emprego, os jovens partem. Os idosos são votados à solidão e ao esquecimento. As famílias separam-se porque muitos vão para o estrangeiro.” Jorge Pelicano, que demorou dois anos e meio a produzir este documentário, aponta o despovoamento como um dos principais problemas da região transmontana.
“Temos de acreditar, estarmos unidos e estabelecermos políticas que fixem as pessoas na região. Criando, por exemplo, um turismo ferroviário, como se investiu no Douro através do turismo fluvial”, defendeu o realizador, no debate após a apresentação do filme.
“O filme faz com que as pessoas se mobilizem para esta causa. Temos é de lutar todos juntos! Não pode ser como a EDP e o Governo (CP) pretendem, que é por isto debaixo de água”, argumenta.
A. Carvalho construiu esta miniatura e foi peça importante do filme
A Quercus afirma que “esta luta ainda não está perdida, pois ainda não saiu a guia definitiva. Uma comissão independente realizou um estudo para a Comissão Europeia, publicado há poucos dias, que arrasa o Plano Nacional de Barragens”, garantiu, em Mirandela, um representante da organização ambientalista.
O documentário «Pare, Escute, Olhe» destacou-se como o grande vencedor da 7.ª edição do Festival Internacional de Cinema DocLisboa, tendo arrecadado dois prémios na competição portuguesa: Melhor Longa-Metragem e Melhor Montagem, e ainda o Prémio Escolas. Para além de ter ganho, à posteriori, o principal troféu do Festival Internacional de Cinema Ambiente de Seia. Onde foi premiado com as três Campânulas de Ouro, o Grande Prémio do Ambiente, o Grande Prémio da Lusofonia e o Prémio Especial da Juventude.
ALGUNS DOS PROTAGONISTAS
Fátima Amaral, Ribeirinha
“A Linha do Tua é importante para nós porque não temos mais nenhum meio de transporte. Se não for o comboio, só nos resta o táxi. E muitos não têm possibilidades económicas para estar a pagar um táxi sempre que é necessário. Deixa-me triste.”
Berta Cruz, Vilarinho das Azenhas
“Estamos mal, mal! Já somos pobres e mais pobres ficaremos. A pensão é pequenina, nem para os medicamentos dá. Quanto mais pagar um táxi! São 20 euros até Mirandela, mais 20 para regressar a casa. Assim, estamos condenados ao isolamento porque poucos têm esse dinheiro.”
Pedro Fernandes, Sobreira
“A antiga auto-motora nunca devia ter saído daqui, como nunca devia ter saído de Bragança. Espanha investe na manutenção e criação de mais linhas férreas e Portugal faz precisamente o contrário. Falam no TGV como obra imperiosa, apesar do seu valor absurdo, quando aqui seria necessário apenas um investimento equivalente a uma gota de água no oceano se compararmos o custo da obra com os valores quer do TGV, quer da OTA. Esta é uma das mais belas paisagens que eu já vi!
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