"DISCIPLINA"
Olga Roriz, a intérprete criadora
FACTOS
Nomeada – Olga Roriz
Tempo – 54 anos
Lugar – Teatro Municipal de Bragança
Data de Nascimento – 8 de Agosto de 1955
Signo – Leão
Maior Virtude – Disciplina
Maior defeito – Pensar que não tenho nenhum
Origem – Viana do Castelo
Ofício – Coreógrafa & Bailarina
Estado Civil – Divorciada
Religião – Católica
ENTREVISTA
1 @ Sonhava produzir um filme para o qual até já tem argumento. Esse sonho está em vias de se tornar realidade ou já se concretizou?
R: Mais que um sonho, foi uma necessidade. Na altura, essa ideia passou para o papel e, neste momento, está tudo escrito e pronto para avançar. Entretanto, apareceram outras duas oportunidades, de dois filmes que já fiz, as “Felicitações Madame” e a “Sesta”, e um terceiro, os “Interiores”, em que só falta a montagem. Estes filmes foram feitos com a Companhia, apesar de não serem registos de espectáculos e pouco terem a ver com a dança. São filmes de autor. Além de ter escrito os seus argumentos, eu era a realizadora e responsável pela montagem. O primeiro tinha quase uma hora, o segundo, 15 minutos e o terceiro, ainda não sei quanto tempo irá ter.
2 @ Então, porque é que ainda não concretizou o sonho do seu primeiro filme?
R: Não o fiz nem irei fazer tão rapidamente, porque é um orçamento extravagante e precisava de apoios.
3 @ Em traços gerais, o guião do filme versaria sobre que matéria?
R: É uma história real sobre uma mulher, bailarina, que após ficar queimada em criança, ficou com o corpo coberto de cicatrizes. Passa-se dentro de um quarto de hotel do Buçaco, onde dois homens entram na vida dela, na floresta e no Jardim do Buçaco. Agora, não posso revelar mais.
4 @ Se pudesse passar uma noite com uma personalidade mundial, seja política, desportiva, artística ou outra, em quem recairia a sua escolha?
R: Já passei noites muito interessantes com personalidades como o Mickey Rourke, num after-hours numa discoteca em Nova Iorque ou a Lady Di (Princesa Diana). Mas tenho dificuldade em eleger alguém. Se tivesse de escolher, seria um actor de cinema. Porque são pessoas que fazem parte do universo criativo, da minha cultura e algumas gostava de perceber se serão tão interessantes e inteligentes como aparentam ser. Como, por exemplo, o Jeremy Irons.
5 @ Três características obrigatórias num homem para, em potência, ser alvo do sexo feminino?
R: Eu só posso falar por mim e não pelo sexo feminino. Mas pelo meu gosto, prefiro homens femininos (“bem tratados”), magros, muito magros e inteligentes.
"Nortada", a peça que Olga dedica aos seus pais
6 @ Se não trabalhasse como bailarina e coreógrafa, que carreira ou empreendimento gostaria de ter conseguido?
R: Qualquer coisa relacionada com a arte, em criar ilusões. Escrever talvez, como actriz ou mesmo na arquitectura. Fiz um curso de Design de Interiores, ou seja, outra carreira teria de se basear na criação.
7 @ Se a vida selvagem fosse um filme, uma vez que os cientistas alegaram, ultimamente, que dois terços das espécies estão em risco de extinção, que animal interpretaria?
R: Uma leoa, claro. Aquela que vai à caça, sempre a trabalhar de um lado para o outro.
8 @ O que considera ser inaceitável num ser humano?
R: A violência gratuita!
9 @ A Olga prefere dançar ou coreografar?
R: Dançar e coreografar! Quando essas duas coisas estão juntas, que é o caso de quando eu danço os meus próprios solos, é, realmente, um sítio, um local muito especial. É incomparável! Agora, também já não danço muito. Criei o meu último solo há uma década, dancei-o, por acaso, ainda este ano. Mas vou começar terça-feira com outro solo (dia 10 de Novembro) e esse momento de união da coreógrafa, da intérprete criadora, é muito forte e especial, onde o corpo e a mente, as possibilidades e impossibilidades, se conjugam em palco e em simultâneo! Essa solidão de estar sozinha, essa exposição, é o que eu mais aprecio. Hei-de ter para sempre, essa manifesta vontade de estar no palco. Na minha forma de dançar, há especificidades que são só minhas, que não as consigo transmitir a ninguém, uma qualidade de movimento, uma forma de estar em palco, que ainda posso dar.
10 @ Durante uma vida de artista, bebeu imensas influências e criatividades ambíguas. Actualmente, o que mais a inspira?
R: Na dança pouco me inspiro. Apesar de me compararem, desde o início da minha carreira, com a Pina Baus (coreógrafa alemã brilhante de dança de teatro). Mas, é mais no cinema, na literatura e no teatro, que bebo grande parte das minhas influências. Também estou sempre atenta ao que me rodeia. Dessa forma, percebo o ambiente e colho dele alguma da minha inspiração. Bem como, daquilo que eu penso e sinto.
"Pedro e Inês", outra criação de sucesso da bailarina e coreógrafa
11 @ Uma viagem de sonho consigo teria que país desconhecido ou cidade como destino?
R: Ainda há uma cidade a que eu gostaria de ir, apesar de ter medo, e que é Buenos Aires! O tango para mim… Eu sou muito sensível, choro por qualquer coisinha. Tenho a impressão de que se chegasse a essa cidade, uma referência a nível cultural, nem sei o que faria, talvez sentar-me numa qualquer praça e ficar imóvel a contemplá-la.
12 @ Defina-me em 3 palavras a mulher do século XXI?
R: O problema é a generalidade porque eu sinto-me à parte. Há, por um lado, uma obstinação grande da mulher em alcançar certos degraus nas várias carreiras e, por outro, uma baralhação, na forma de o conseguir. Nem todas as mulheres, assim como nem todos os homens, têm direito a certas posições. Esta equiparação com o homem traz a competição, que pode ser ou não saudável. É preciso é saber se essa afirmação, se essas mulheres ao atingirem determinados patamares, o fizeram da forma mais correcta. Ou se é pela sua linda cara…
13 @ Então defina-me em três palavras, o seu conceito ideal da mulher do século XXI? Independente, poderia ser uma das possibilidades…
R: Eu gostaria muito que assim fosse. Elas também gostariam de o ser. Inclusive, independentes dos maridos. Mas eu penso que continuam a cair naquele conceito de que o homem tem a responsabilidade de tratar da casa, da família, trazendo o seu sustento. Se perguntar, realmente, a cada uma delas, vai ver que ainda é assim. E há muitas mulheres que fazem por isso, se fosse possível não fazerem nada, adoravam! Mas, respondendo à sua pergunta, inteligente, independente e saber manter-se bela.
14 @ Se a dança tivesse um sinónimo, qual seria?
R: Se eu lhe der um sinónimo, outros ficarão de fora. Essa pergunta é extremamente redutora. Catalogar coisas como o livro ou o filme da sua vida, espero nunca ser assim. Não ter só um livro, um filme ou uma pessoa na minha vida. Essa unidade é limitar completamente o espaço e o tempo da nossa vivência Não sou bipolar nem esquizofrénica, mas tenho uma série de gostos e a dança tem uma série de sinónimos. Não digo um porque seria reduzir a dança apenas a uma palavra ou a um sentimento, quando significa muito mais do que isso.
15 @ O que é que continua a atrasar Portugal?
R: Primeiro que tudo, a falta de disciplina. Não precisamos trabalhar mais, precisamos é de trabalhar melhor! Com disciplina e método de trabalho.
16 @ É o conselho que dá às pessoas?
R: Sim! Até para termos o prazer de não fazer nada e podermos pastar no sofá a ver um filme de domingo! É algo que eu adoro fazer, mas depois do dever cumprido.
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