27 de outubro de 2009

HELENA GENÉSIO

CULTURA: O VERDADEIRO INVESTIMENTO



FACTOS

Nomeada – Helena Genésio
Lugar – Teatro Municipal de Bragança
Signo – Gémeos
Maior defeito – Teimosia
Maior virtude – Determinação
Origem – Bragança
Ofício – Directora do Teatro Municipal (desde a sua criação)

ENTREVISTA

1 @ Qual a peça, o concerto ou artista ou artistas mais aplaudidos em sete anos de existência do Teatro de Bragança?

R: Há vários géneros de palco. Dir-lhe-ia que na dança é indiscutivelmente a companhia Olga Roriz. No teatro, por razões óbvias, a artista mais aplaudida foi Eunice Muñoz com a peça “Miss Daisy”, em 2007. No ano seguinte, a Maria do Céu Guerra com o Pranto da Maria Parda também foi uma actriz sobejamente aplaudida. E foram estas duas grandes actrizes que nós homenageámos colocando uma placa no foyer. Em termos de concertos, o mais aplaudido ou, pelo menos, aquele que eu considerei como sendo o melhor, aconteceu com a Orquestra Gulbenkian.


2 @ O facto de serem os mais aplaudidos, reflecte-se na bilheteira, sendo sinónimo do seu sucesso garantido?

R: Não é sinónimo de bilheteira, pois estou a pensar, concretamente, neste concerto da Orquestra Gulbenkian, que é tão só a melhor orquestra portuguesa e teve, na plateia, cento e tal pessoas. Estava a sala a meio, de facto. É sinónimo indiscutível é de qualidade, mas nem sempre é sinónimo de grandes êxitos. Pegando nestes 7 anos de história, escolhi os exemplos mais marcantes.


3 @ E quem gostaria mesmo de trazer, a nível pessoal, ao grande palco brigantino?

R: Qualquer actor, actriz ou bailarino que tenha qualidade é sempre um prazer trazê-los. Portanto, são todos bem-vindos desde que tenham qualidade. Os bons serão sempre óptimos. Não quero eleger um porque estaria a pôr outro de parte.

4 @ Com a agenda preenchida até finais de Dezembro, qual a grande actuação / performance esperada e marcada que lhe suscita de antemão, um interesse inelutável?

R: No dia 7 de Novembro, a Companhia Olga Roriz com a Nortada. Esta companhia apresenta sempre um grande espectáculo. Este, em particular, é muito especial também para ela, já que o dedica aos pais e tem por base as Festas da Nossa Senhora da Agonia, em Viana do Castelo. Será, claramente, um espectáculo marcado pela exuberância e pela perfeição, e por todas as coisas a que Olga Roriz já nos habituou.


5 @ E o Lago dos Cisnes bem próximo do Natal? Espera casa cheia?

R: Esse é o clássico, na altura de Natal, que cai bem e que toda a gente gosta muito de ver. É uma companhia de Moscovo que vem dançar o Lago dos Cisnes. Espera-se uma sala esgotada, mas como se espera também para a Olga Roriz.


6 @ Quando falam consigo, devem pedir-lhe que traga a Bragança algo ou alguém. Qual o pedido mais comum?

R: As pessoas manifestam sempre algumas das suas vontades e, normalmente, eu mantenho-me atenta, satisfazendo até alguns dos pedidos que me fazem. No entanto, como serviço público, temos de prestar um serviço de qualidade, e há programas que não a têm. Eu dou-lhe um exemplo, o “Levanta-te e Ri” foi-me solicitado imensas vezes, mas eu recusei sempre porque não o considero um programa de qualidade. Isto é uma casa que tem de prestar um bom serviço público.
Respondendo à sua pergunta, pedem-me muitas vezes o La Féria. Naturalmente, já esteve em Bragança com a “Amália”. Ele adora Bragança, gostou imenso de trabalhar neste teatro e, sempre que tem uma estreia, escreve-me uma carta convidando-me a assistir na qualidade de Directora Artística do Teatro Municipal. O La Féria não vem mais aqui pela simples razão dos seus espectáculos não serem itinerantes. Fá-los para Lisboa e Porto, e compreendem uma logística massiva que seria impossível transportar de cidade para cidade. “Amália” foi a excepção, apresentado também no Olympia de Paris.


7 @ A posição de Vereadora da Cultura permitir-lhe-ia fazer mais pelo espectáculo e pela arte do que o seu actual cargo?

R: São coisas distintas! Gosto muito de ser directora de teatro e estou aqui por paixão, apenas e só. A missão de vereadora é nobre e tem de ser de alguém com particular sensibilidade para a cultura. Agora, aquilo que eu acho importante, e é isso que se verifica, é uma sintonia, uma colaboração e uma cooperação que tem de existir entre a vereação e as pessoas responsáveis pelos equipamentos culturais, neste caso concreto, o teatro. É fundamental! O cargo de vereadora nem sequer é apetecível para mim.


8 @ Essa sintonia, esse entendimento, de facto, existe?

R: Sim, em absoluto! Seja com a vereadora, seja com o executivo.

9 @ Na sua opinião, somos uma cidade de artistas?

R: Nem pensar! Como também não somos um país de poetas, nem de brandos costumes. Somos uma cidade com excelentes equipamentos culturais, com uma oferta cultural de qualidade equiparável a poucas. Falta é curiosidade e motivação por parte das pessoas, por um lado, e por outro, há pouca gente. Nós lançamos os desafios, cabe às pessoas comparecerem! Terem essa coragem…


10 @ Uma viagem de sonho consigo teria como destino um paraíso tropical ou uma cidade com um vastíssimo património cultural, tipo Nova Iorque com o mítico museu Guggenheim?

R: Há uma música do Serge Reggiani, um grande cantor francês de quem eu gosto muito, que diz “Venise n´est pas en Italie, Venise c´est chez n´ importe qui, c´est n´ importe où”. Essa é a história! O importante é irmos para um sítio onde nos sintamos bem, seja na Amazónia ou na pequena aldeia de Montesinho, onde eu vou diversas vezes.


11 @ Se fosse uma peça de teatro, que peça a interpretaria a si?

R: A “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht.


12 @ O que considera ser inaceitável num artista?

R: A arrogância.


13 @ Como é que considera o panorama cultural em Portugal?

R: Os artistas, as companhias e os produtores fazem milagres porque temos um orçamento miserável para a cultura e um Ministério dotado com metade daquilo que deveria ter.

12 @ Numa conjuntura de crise económica, pandemia, tensões bélicas e mundiais, a cultura deve continuar na mente das preocupações da classe política por ser ela uma necessidade básica do ser humano? Em que sentido?

R: Absolutamente! É preciso olhar para a Cultura, não como uma simples despesa, mas como um verdadeiro investimento. Não podemos sobreviver, temos de viver! E para viver, a cultura é importantíssima e torna-se uma peça fundamental! Tem também que ver com a qualidade de vida, com educação e formação pois é ela a grande responsável pelo diálogo entre os povos.


13 @ Qual o pensador ou escritor português que satisfaz as suas delícias?

R: Eduardo Lourenço.


14 @ Camões vê os seus versos serem banalizados pelo actual estado de coisas em Portugal. Acha que os políticos faltaram às aulas quando a matéria versada incidia nele próprio?

R: Isso não é apanágio dos políticos! Há alguns interessantes, que eu admiro, outros, nem por isso. Uns preocupam-se com a sua formação e outros não. Daí haver políticos que são grandes humanistas e haver outros que são apenas e só, grandes politiqueiros.


15 @ Qual o seu sentimento predominante em relação à poesia? As pessoas ainda acreditam ou é uma forma de arte em desuso?

R: Para mim, a poesia é um lugar sagrado. Na perspectiva em que assim a considera Sophia de Mello Breyner. É a casa, o lugar primeiro…


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