28 de abril de 2011

O "VÍCIO" DO FOGO

Quando se testam os limites de previsibilidade de um instrumento tão poderoso que pode escapar ao controlo humano

Várias são as parcelas de território queimadas na época que antecede um Verão famoso pelos seus incêndios. Uma forma de prevenir males maiores, no pico de um calor intenso. Legais ou ilegais, as queimadas acontecem um pouco por todo o distrito. Naquelas permitidas por lei, são chamados a intervir os técnicos de fogo controlado. A perigosidade é tanta que, regra geral, estas acções são devidamente acompanhadas pelo Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro, Bombeiros e Sapadores. De acordo com os profissionais da área, esta é uma profissão de risco que pode chegar mesmo a transformar-se num vício. Na única queimada realizada este ano, na Aveleda, Bragança, Edgar Bragada supervisionava o Plano de Fogo Controlado, enquanto confirmava aquilo que parece ser um facto bem conhecido entre aqueles que manipulam o fogo para atingir um fim específico. “Não sei porquê, mas uma pessoa começa a andar com o pinga-lume e apanha o vício de uma coisa destas. É tipo outro vício qualquer como o tabaco, o álcool ou a droga”, assegurou o técnico de fogo controlado.


O Pinga-lume é um instrumento cuja mistura de gasóleo e gasolina permite dar início a um fogo. “Isto é um material explosivo. Portanto, tem que ser usado com muito cuidado e tem que se saber aquilo que se está a fazer”, lembrou Edgar.
Outro Técnico de Fogo Controlado é António Borges, que gosta, realmente, do que faz e, também, sente o “bichinho”. Uma circunstância bastante comum, nesta profissão. “De facto, o fogo continua a ser um mistério. Eu posso ter 50 anos de experiência de fogo controlado e vou continuar a achá-lo misterioso”, garantiu o técnico, que tem vindo a apostar na formação, inclusive deslocando-se aos Pirenéus franceses e à Córsega. “Nós temos uma formação mínima para tentarmos prever o comportamento do fogo. Mas um fogo nunca é igual a outro. Pode haver algum pormenor, quer seja o combustível, quer seja outra coisa qualquer, que não conseguimos controlar naquela altura, que nos desafia”, explicou. “O fogo é um instrumento fácil, por isso é que, às vezes, leva a exageros. É como lidarmos com um ser vivo. Daí o tal bichinho, o tal vício”, justificou o técnico, certificado pela Autoridade Florestal Nacional em 2006.


António Borges trabalha para uma Associação de Produtores Florestais, a Arborea, e diz ter conhecimento, apenas, da existência de dois ou três técnicos de fogo controlado no distrito de Bragança. De tal forma há poucos que procede, mesmo, ao ateamento de fogos noutras zonas do país. “Trata-se de utilizar o fogo fora da área dos períodos críticos, principalmente, de Inverno. E vamos queimar áreas com vários objectivos”, referiu o técnico. Na Aveleda, por exemplo, fez-se uma queimada em defesa da floresta contra incêndios. Ou seja, o objectivo foi o de reduzir ou interromper o combustível, criando assim uma faixa ou corte para compartimentação do terreno e que permitirá aos Bombeiros, de futuro, intervirem naquela zona, caso seja necessário. “O fogo controlado é apenas uma das ferramentas. Uma das opções num caso concreto. Mas há várias! Nós temos é de ponderar as vantagens e o risco potencial envolvido”, sublinhou António Borges.

António Borges, Técnico de Fogo Controlado

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