Mós tem conhecido grandes desenvolvimentos infraestruturais e com o advento da Auto-Estrada sobe, agora, a fasquia dos sonhos
Saneamento, luz, uma igreja restaurada e um Museu Rural são algumas das conquistas granjeadas por Mós desde o virar do milénio. “Desde há oito anos para cá, houve uma espécie de revolução nesta aldeia porque se fizeram aqui obras muito importantes: nos caminhos, no saneamento, pusemos pontos de luz que existiam em pouco número”, afirmou Fernando Teixeira Vilela. O secretário da Junta de Freguesia de Mós (JFM) mostra-se bastante satisfeito com os progressos alcançados. “Começou-se a apostar na pedra à vista, uma aposta no rústico continuada pelos particulares. Restaurou-se a igreja, temos um Museu Rural, água com fartura, temos uma Associação”, continuou. De acordo com o entrevistado, em termos infraestruturais, Mós é, agora, uma “aldeia completa”.
Apesar do presidente da JFM ser Anselmo Martins, quem administra a aldeia é Fernando Vilela. O presidente rege a anexa, Paçó, donde é natural. Uma espécie de acordo tácito entre os dois, em que cada um é responsável pela sua aldeia. “Sou eu que trato aqui da aldeia. Isto é um bocado sui generis, mas o Anselmo gere Paçó e eu estou a gerir Mós. Chegámos a esse acordo. Aliás, isso já vem de antigamente”, explicou.
O Museu Rural de Mós, inaugurado a 6 de Agosto de 2006, tem trazido à aldeia um número significativo de visitantes. Enquanto que a Associação Cultural, Recreativa e de Melhoramentos de Mós, “Os Mochos”, viu as suas instalações inauguradas a 18 de Abril de 2004. Um porto de abrigo merecido para uma associação que tem desenvolvido diversas iniciativas em vários âmbitos, desportivos, culturais e ambientais.
Outro ponto que joga a favor da aldeia, é a Zona Industrial de Mós. Apesar da indústria instalada ser, ainda, escassa, Fernando Vilela vê as suas esperanças renovadas para a aldeia com o advento da Auto-Estrada Transmontana. “A ideia partiu da Câmara, mas a Junta de Freguesia teve um papel importante. Tinha lá terrenos e foi feita a proposta se queríamos negociá-los, se queríamos ir para a frente com a zona industrial e isso trouxe também o Nó à auto-estrada que, neste momento, está a ser feito”, desenvolveu o responsável. Na sua opinião, aquilo que mais falta faz a Mós são as pessoas. Uma situação que se poderá ser alterada com a promessa da auto-estrada. “Aqui só temos falta de gente, mais nada! Agora, o Nó pode trazer pessoas a fixarem-se aqui. As pessoas de cá, essencialmente. Se não fosse a zona industrial, não havia nó”, considerou.
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Secretário da JFM há cerca de 10 anos, Fernando Vilela antevê o futuro com optimismo. “Eu acho que é uma aldeia com futuro. Embora haja pouca gente. Mas há muita casa a ser restaurada. É pena é a crise ter vindo nesta altura, que é o que está a atrapalhar as coisas”, declarou.
Quem não partilha de uma visão tão optimista é João de Deus Martins. “A continuar por este ritmo, não vejo grandes perspectivas para Mós. Como não há pessoal novo, não vejo que possa haver um futuro promissor, apesar de estarmos a 5 minutos da cidade de Bragança”, afiançou este habitante, natural de Mós, onde reside há 49 anos. Para João, o grande problema é o envelhecimento da população. “As aldeias estão cada vez mais envelhecidas e o pessoal novo quase não existe. Estão a ficar cada vez mais desertas. Aquilo que se nota mais é a falta de gente nova capaz de trabalhar. As pessoas aqui andam todas nos 70, 80 anos”, assegurou.
Lembrando outros tempos, surgiu Feliciana Augusta Queiroz. Tempos em que a escola primária ainda estava aberta e as crianças proporcionavam alegria, cor e movimento a uma aldeia onde, agora, simplesmente, não existem. Com uma carreira enquanto docente de 36 anos, 30 exerceu-os na escola primária de Mós, encerrada na década de 90. “Quando me aposentei, não era capaz de estar em casa. Chegava aquela hora e tinha que ir para a escola. Eu comecei com 41 alunos e acabei com 11”, contou a antiga professora, lembrando o declínio drástico do número de meninos. “Para mim, a aposentação foi um desgosto grande, grande…”, provou Feliciana, com um pesar que transparece nas palavras, com a mágoa da saudade no olhar e o rosto humedecido pelas lágrimas.
TESTEMUNHOS
Feliciana Augusta Queiroz
“ Fui professora na antiga escola primária de Mós durante 30 anos. Sinto muitas saudades desses tempos. Fui muito bem estimada e muito querida por todos. Dá para chorar até! Depois, namorei cá e casei cá. Sinto-me feliz aqui”
João de Deus Martins
“No Verão, vêm os emigrantes, principalmente, de França, que é onde estão a maior parte deles. Nota-se muita diferença porque trazem mais movimento. É um ambiente diferente, para melhor”
Fernando Teixeira Vilela
“Temos desenvolvido aqui algumas actividades interessantes como, por exemplo, de educação ambiental, inclusive com escolas primárias. Temos um percurso pedestre e um polidesportivo inaugurado, em simultâneo, com o Museu Rural, em 2006”
CAPELA DAS ALMAS
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