8 de setembro de 2009

MURÇA COM REAL 4X4 AVENTURA

Atitude nobre de piloto inglês que, em segundo lugar, auxiliou Gerardo Sampaio, abdicando da vitória por desportivismo e permitindo que o piloto vimaranense se sagrasse vencedor

Numa terra de inconfundível substância paisagística e que reúne condições singulares para a prática de todo o terreno, a Vila de Murça recebeu, de 1 a 6 de Setembro, pelo sétimo ano consecutivo, mais uma edição do prestigiante “Extreme Murça 2009”, realizado num cenário agreste de rara beleza natural.
Numa das provas de sábado, último dia da competição, Gerardo Sampaio e o seu co-piloto, que iam em primeiro lugar, tiveram um infortúnio e o seu Nissan ficou imobilizado. Valeu Jim Marsden que parou para prestar auxílio, emprestando a sua máquina de soldar, enquanto que o seu co-piloto,Mark Birch soldou o eixo. Este acto nobre de desportivismo permitiu a Gerardo sagrar-se campeão, enquanto que o inglês num Land Rover ficou com o segundo lugar, caso não tivesse parado, a equipa inglesa, seria vencedora. O terceiro lugar foi também para uma equipa portuguesa, Vasco Silva e Monteiro, ao volante de um Freelander.
Murça almejou estatuto, merecidamente, tornando-se num bastião do 4X4, onde 27 das 30 equipas permitidas, constituídas por dois elementos cada, oriundas de sete países, entre eles, Espanha, Portugal, Inglaterra, França, Alemanha e arquipélago das Canárias, vieram preparadas para a árdua tarefa de conquistarem um lugar no pódio, numa das provas mais duras, bem organizadas e competitivas de Trial 4x4, aventura em todo-o-terreno.Com uma extensão a rondar os 200 quilómetros, o trajecto era composto, em grande medida, por percursos de difícil transposição, tido os concorrentes apenas a noite quinta-feira (dia 3) para um merecido, mas encurtado descanso. Isto porque, as sete super-especiais (SS) que tiveram lugar nesse dia na Ribeira d´Aila, entre Monfebres e ponte do Franco, demoraram mais que o previsto, prolongando-se por uma noite já cerrada.
A destacar neste final de tarde, a SS17, que teve sob a ponte da aldeia de Varges um cenário pejado de assistência e com uma polémica à mistura, dado que, muitos dos pilotos, exceptuando os primeiros, contornaram parte do percurso (ou uma “porta”, termo técnico), pela dificuldade que lhe era inerente e porque mesmo ultrapassando-o, as probabilidades de se cometerem penalizações traduzidas em pontos ou danificar elementos vitais da viatura, eram tão elevadas que “não compensava o esforço”, diziam uns, ou então “é uma questão matemática”, diziam outros. No entanto, Gerardo Sampaio, de Guimarães, o primeiro a arrancar nesta SS17, mostrou o verdadeiro espírito de aventura superando o obstáculo de forma guerreira, levando o motor do seu 222 ao extremo e desafiando a força da gravidade.
Comparável ao mítico Camel Trophy, a região de Murça tem nos seus percursos características tão peculiares, tecnicistas e amazónicas, que estes são elogiados, desde a sua primeira edição em 2003, pois testam ao limite todas as capacidades humanas e mecânicas dos seus intervenientes. Este ano, devido ao seu alto nível competitivo, a RAINFOREST MURÇA foi unânimamente considerada, quer por jornalistas, quer por pilotos estrangeiros, como a melhor prova do género realizada em solo europeu. Outra das características peculiares desta prova, que certamente dificultou a tarefa a todas as equipas, foi o facto de ser proibido assistência externa. Assim, em forma de prevenção, os participantes jogaram pelo seguro, levando na viatura todo o material que opinassem ser mais susceptível de contribuir para reparar potenciais avarias, realizadas obrigatoriamente pelas equipas no terreno.
As duas primeiras refeições eram tipo “ração de combate” e só no final de cada dia de provas, é que os participantes usufruíam de uma regeneradora refeição quente, todas fornecidas diariamente pela organização e servidas no acampamento. O descanso, também em acampamento, serviu, acima de tudo, para saudar o convívio e consequente estreitamento de laços entre todos, numa verdadeira prova selvagem, onde interessou, acima de tudo, o contacto com a natureza, a amizade e a paixão pelo todo-o-terreno.
No último dia, sábado à noite, das 23h as 3 da madrugada de Domingo, mais de 4000 pessoas assistiram à última super-especial que teve lugar nas portas da cidade

Organização sem reparos
A responsabilidade a nível organizativo, girou em torno de 3 pessoas: Alvaro Aznar, dirigente máximo da SinLimite Off Road, empresa encarregue de todos os pormenores organizativos; José Rodrigues, responsável por todo o perfil e dinâmica da prova, um trabalho de vários meses que incluiu road book para equipas, concorrentes, jornalistas e público; e, por último, Agostinho Pacheco, um colaborador de Guimarães e aficcionado do TT, que desempenha um papel deveras importante, sobretudo, no decorrer da prova, já que é ele que trata da relação com os concorrentes, servindo de tradutor, pois domina várias linguas. Uma organização que garantiu o sucesso de mais uma RainForest Murça e que, para isso, em seis dias, pouco ou nada dormiu. “Um esforço bem recompensado”, sublinha José Rodrigues, isto porque Murça recebeu por intermédio de quem os visitou, uma quantia na ordem dos 150.000€, investidos em comércio, restauração, produtos regionais, hotelaria e combustiveis, entre outros.

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