4 de dezembro de 2009

MARISA MATIAS

"VIVEMOS NUM PAÍS ABSOLUTAMENTE CORRUPTO"
Um ideal de Mulher nos meandros do poder

FACTOS
Nomeada – Marisa Matias
Lugar – Restaurante Amadeus, Bruxelas, Bélgica
Ofício – Eurodeputada
Partido - Bloco de Esquerda
ENTREVISTA

J.N. – Em que ponto se situa a discussão sobre o Plano Nacional de Barragens no Parlamento Europeu?

M.M – Em termos de Parlamento, a questão do Plano Nacional de Barragens passou em discussão porque houve uma série de petições que envolvem especificamente a Barragem do Tua. Essa petição foi à Comissão Parlamentar, mas nenhum dos três eurodeputados pelo BE (Marisa Matias, Miguel Portas e Rui Tavares) acompanhou esse dossier e, portanto não sabia a posição da comissão. Durante a tarde fui pesquisar e a informação que recolhi foi que, a Comissão levanta as mais sérias reservas em relação ao Plano Nacional de Barragens, o conjunto das 10 barragens, porque põe em causa o cumprimento da directiva da qualidade da água dos rios.

J.N. – A Quercus afirmou ter saído uma directiva que arrasou com o Plano nacional de Barragens. É verdade?

M.M – É verdade! Mas as coisas passam primeiro em comissão e só depois chegam ao plenário. Nós não acompanhamos a par e passo os dossiers que estão nas outras comissões. Apenas e só quando estes chegam ao plenário, é que tomamos conhecimento de certas matérias.

J.N. – Quais são as tuas perspectivas em relação à Cimeira do Clima de Copenhaga?

M.M – As mais limitadas possíveis, infelizmente. Por várias razões. Desde logo, ainda nem sequer começaram as negociações e já toda a gente, inclusive na União Europeia, afirma que a Comissão não é tão exigente como deveria. Os sinais que têm vindo dos Estados Unidos são muito dúbios…

J.N. – Eles nunca respeitaram o Protocolo de Quioto. Tens esperança que isso aconteça? Que haja uma alteração significativa na posição adoptada pelos Estados Unidos da América?

M.M – O comportamento dos Estados Unidos em matéria de alterações climáticas não pode ser pior. Actualmente, tem-se definido um conjunto de objectivos a nível ambiental e não são permitidos quaisquer tipo de excepções em relação a países em vias de desenvolvimento ou a países que já fazem parte da reconfiguração da nova ordem mundial em matéria de relações económicas. Mas os Estados Unidos, a maior potência mundial, nunca foram outra coisa senão uma excepção.

J.N. – Qual a tua expectativa em relação a Obama? Achas que com ele na presidência da Casa Branca as coisas poderão ser diferentes, já que é ele o primeiro a insurgir-se contra as alterações climáticas?

M.M – A luta é difícil! Também aí não podemos ser nem demasiado ingénuos, nem demasiado críticos. O Plano Nacional de Saúde foi uma vitoria suada e seria impensável aqui há dois ou três anos. Agora, há outras áreas em que eu acho que deviam ser adoptadas posições mais firmes como, por exemplo, em matéria de paz. Com Obama na Casa Branca, a mudança é, sem dúvida, positiva. Só não sei se será suficiente. Assim como eu acho que a posição da União Europeia não basta.

J.N. – Terá de haver, portanto, uma união de esforços?

M.M – Mais do que isso! Trata-se de definir, de uma vez por todas, que esta crise ambiental é tão ou mais importante do que a crise económica que se vive, actualmente. 


J.N. – O que é poderia e deveria ser feito na política em Portugal? Três medidas que, no imediato, pudessem levar o nosso país para a frente…

M.M – Ter coragem suficiente para não se chumbar uma segunda vez o pacote de medidas anti-corrupção. Porque eu acho que a falta de transparência democrática, e a raiz de todos os males, advêm do facto de vivermos num país absolutamente corrupto. A segunda medida seria a revisão do Código de Trabalho, que tem sido criminoso em matéria de direitos dos trabalhadores. A terceira prioridade seria a Cultura, que é indispensável. Investe-se pouco na Cultura como um bem público de primeira necessidade. Ou seja, acesso à Cultura para todos! Isso sim, seria um sinal de mudança.

J.N. – Agora num tom mais “light”, se fosses um animal, que animal interpretarias?

M.M – Uma iguana.

J.N. – Que música gostas de ouvir no carro, em casa ou a caminho do trabalho?

M.M – Eu não conduzo, mas os meus gostos são muito ecléticos. Vão desde o punk rock a música clássica. Joy Division, David Bowie ou The Clash são apenas alguns dos nomes.

J.N. – Se não estivesses na política, que carreira gostarias de ter seguido?

M.M – Continuaria na minha vida académica de investigação científica como, de resto, fiz durante os últimos 12 anos. Ou então a trabalhar em movimentos sociais, pelos direitos das mulheres, das minorias sexuais, da cidadania.

J.N. – O que é que consideras inaceitável num ser humano?

M.M – Nada é inaceitável, depende do contexto.

J.N. – Então uma violação, um homicídio são aceitáveis?

M.M – Nada é inaceitável num ser humano, depende do contexto. Um contexto de crime não é um contexto aceitável.

J.N. – Enumera-me três pedidos que farias à Comissão Europeia?

M.M – Que a União Europeia arranje uma fórmula para se auto-financiar a si própria, para não depender das contribuições dos estados-membros porque, enquanto assim for, haverá sempre forma de dar o menos possível e receber o máximo. Pedia também uma Comissão que represente mais a diversidade europeia do que a proporcionalidade governamental. E uma comissão mais respeitadora dos direitos e igualdades das mulheres, dos direitos em sentido lato.

J.N. – Uma viagem de sonho contigo teria que destino?

M.M – Os Grandes Lagos em África.

J.N. – És mais de arte ou de um bom vinho?

M.M – Um bom vinho é uma arte e uma obra de arte pede um bom vinho.

1 comentário:

  1. tirando a parte de nada ser inaceitável num ser humano (há tanta coisa inaceitável num ser humano) é uma mulher muito interessante para além de ser uma brasa de cair para o lado.

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