18 de março de 2010

ESTUDOS SEM CREDIBILIDADE

Alunos são alvo de dois estudos sobre o bullying (levados a cabo pela UM) sem compreenderem o conceito que encerra o termo inglês

A Universidade do Minho (UM) realizou dois estudos, um entre 2007 e 2009, intitulado de “Relatório do Projecto de Diagnóstico e Intervenção sobre o Bullying nas escolas da Sub-Região de Saúde de Bragança”, e outro, em Junho de 2008, de nome “Descrever o bullying na escola”.
O primeiro, mais abrangente, incidiu sobre 13 agrupamentos de escolas públicas do Ensino Básico, e uma amostra de 3891crianças do 1º ao 6º ano de escolaridade, e depreendeu que, em termos globais, 36,4% dos inquiridos terão sido vítimas de práticas agressivas entre pares, sendo que, o sexo masculino, apresenta valores superiores (39,9%) comparativamente ao feminino (32,9%).
O segundo Estudo, em sete escolas do concelho de Bragança, sobre uma amostra de 387 alunos, do 2º ao 6º ano, concluiu que 27,7% das crianças foram vítimas, pelo menos, uma ou duas vezes, 24,2% foram-no três ou mais vezes; e 27,4% foram vítimas de agressão física. Na conclusão que salta à vista, afirma que “uma em cada 4 crianças já sofre bullying”.
No rescaldo destas investigações, levadas a efeito pela Universidade do Minho, mas através de autores distintos, e na sequência do Projecto de Educação para a Saúde, o Jornal Nordeste dirigiu-se ao Centro de Saúde de Bragança e a algumas escolas da cidade para tentar averiguar até que ponto os alunos compreendem o conceito inserido no termo inglês - “bullying”.
“Quando iniciámos estas acções de sensibilização, em Dezembro de 2008, constatei que, uma grande maioria dos alunos, não sabia o que era o bullying. Quase todos o confundiam com violência escolar. Para eles, uma agressão física ou verbal já era bullying. Depois, durante o debate, é que lhes explicava as diferenças. Mas eles tinham muitas dúvidas, a princípio”, garantiu Isabel Parente, Técnica Superior de Serviço Social no Centro de Saúde de Bragança.
“Se não sabem, confundem. Logo, nunca poderiam ter respondido de forma correcta. Refiro-me, sobretudo, ao 1º e 2º ciclo. No 3º ciclo, os alunos já são adolescentes e têm uma percepção diferente dos mais novos”, refere Isabel parente, que tem percorrido as várias escolas secundárias do concelho, Emídio Garcia, Abade de Baçal e Miguel Torga, bem como os três restantes agrupamentos, Paulo Quintela, Augusto Moreno e o Agrupamento de Izeda.

Da esq. para a drt. Olinda Bragada e Isabel Parente
O bullying motiva a banalização humana, a perda colectiva de valores sociais e do significado da palavra respeito no relacionamento entre colegas

Ora, se os estudos da UM foram realizados antes do início destas acções de sensibilização, e se por esta altura, os alunos nem sabiam o que era o bullying, nem tão pouco conseguiam distingui-lo de violência escolar, logo, os seus resultados não podem ser considerados fiáveis, por os alunos não entenderem os questionários.
Na Escola Secundária Emídio Garcia, o Jornal Nordeste pode assistir a uma formação sobre o bullying, inserida no Projecto de Educação para a Saúde, ministrada por Isabel Parente ao 3º Ciclo, mais concretamente aos alunos do 8ºC, durante uma aula que deveria ter sido de Educação Física, com a professora Fátima Brito e na presença da Coordenadora, para aquela escola, do Projecto de Educação para a Saúde, Olinda Bragada. “É uma mais-valia para os alunos poderem ter alguns conhecimentos mais aprofundados sobre determinados temas no âmbito da saúde”, afirmou, considerando que o bullying é um desses temas controversos que é necessário fazer compreender.
Este tema, que tanto preocupa a comunidade escolar, mesmo sem o querer aparentar, foi sugerido por docentes em reuniões mensais da saúde escolar. “As professoras procuram em nós, profissionais, temas interessantes que possamos debater nas escolas, esclarecendo os alunos. Um dos temas sugeridos pelas professoras foi, precisamente, o bullying. Talvez haja uma preocupação, por parte dos docentes, em relação à violência nas escolas. Quer se trate de bullying ou violência escolar”, referiu Isabel Parente.
É um facto que, hoje em dia, há uma crescente preocupação associada à violência na comunidade escolar, confirmada e fundada por um estudo da UNESCO que lançou o alerta, certificando que, em muitas escolas, o número de alunos vítimas de bullying atinge os 50 por cento. Um dado alarmante que muitas direcções e responsáveis se apressam a negar, numa atitude de competição por melhores estatísticas anuais.
A cidade de Bragança não é excepção e, quando confrontados com a possibilidade do bullying ser uma realidade, as direcções dos vários agrupamentos e escolas secundárias, negam ter qualquer tipo de conhecimento e dados sobre essa matéria, preferindo mencionar “actos pontuais de pequena agressividade”.

As crianças são um alvo fácil e o palco, muitas vezes, é a própria escola, mas também trespassa os muros desta

Num relato confidencial de um jovem aluno de um dos Agrupamentos da cidade de Bragança, ele revela que, “quase metade dos alunos já foi vítima de bullying”, observando, frequentemente, situações e casos de violência, por vezes, envolvendo perseguições que escalam para fora dos próprios muros da escola. “Eu testemunhei um caso, durante vários dias, em que 4 alunos bateram a outro com varas, dentro do recinto escolar. Fui ao conselho directivo, denunciar a situação e eles não fizeram nada”, afirmou. Quando questionado sobre onde acontecem mais situações de bullying, o jovem é peremptório em responder, “atrás da escola, no recreio e, muitas vezes, fora da própria escola”. Noutro exemplo, relatou, “fui à casa de banho e vi um garoto a sangrar do lábio, perguntei-lhe o que se tinha passado e ele disse-me que lhe tinham batido, que não era a primeira vez, mas que tinha medo e, por isso, é que não fazia queixa”.
Segundo este jovem, os agressores agem sempre em grupo, “normalmente, são 4 ou 5, “porque sozinhos não fazem nada”. “As raparigas não se envolvem com tanta frequência, mas também já as vi chegarem-se à beira de alguém e, sem motivo, espetarem-lhe duas lambadas. Até fico parvo só de ver aquilo”, afiançou.

O Bullying – definição do termo

O bullying compreende atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adoptadas por um ou mais indivíduos contra outro (s), causando dor, angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os actos repetidos, entre elementos da mesma comunidade (colegas), e o desequilibro de poder, são as características essenciais que tornam possível a intimidação da vítima. Em princípio, pode parecer uma simples brincadeira mas não deve ser visto desta forma. A agressão moral, verbal e corporal provocam um sofrimento atroz no alvo da “brincadeira”, podendo mesmo sofrer de stress de desordem pós-traumática, auto-mutilação, tornar-se também ele um agressor, entrar em depressão e tentar, mesmo, consumar o suicídio. Como, de resto, aconteceu em Mirandela, recentemente, quando um rapaz de 12 anos se atirou ao rio Tua.

Principais tipos de Bullying

Físico (bater, pontapear, beliscar, ferir, empurrar, agredir); Verbal (apelidos, gozar, insultar); Moral (difamar, caluniar, discriminar, tiranizar); Sexual (abusar, assediar, insinuar, violar sexualmente); Psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir, ignorar, aterrorizar, excluir, humilhar); Material (roubar, destruir pertences materiais e pessoais); Virtual (insultar, discriminar, difamar, humilhar, ofender por meio da Internet e telemóveis)



Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV - http://www.apav.pt) – 707 2000 77

Também a Associação Nacional de Professores, criou uma linha telefónica de apoio, dirigida a professores, alunos e famílias, envolvidas ou vítimas das mais diversas formas de “Bullying”, quer como agressores, quer como vítimas. Pois, normalmente os envolvidos nestas situações vivem um drama permanente de medo e em silêncio. Esta linha telefónica de apoio encontra-se, de forma confidencial, preparada para ouvir e dar o apoio necessário. O número telefónico de apoio é o 808 968 888 e, este novo projecto, pretende, sobretudo, promover a educação para a convivência nas escolas, ajudando a prevenir e a combater fenómenos de conflitualidade, indisciplina e violência.

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