3 de março de 2010

"DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA"

Com saber de dever cumprido, Júlio de Carvalho transmite a pasta de uma das mais prestigiantes associações brigantinas

Prestes a cumprir o seu primeiro centenário, o Clube de Bragança, fundado a 8 de Março de 1911, é uma associação recreativa, cultural e desportiva, de enorme peso institucional no distrito. Na chefia do seu destino há uma década, prosseguindo sempre uma linha liberal e republicana, mestras do século XXI, o presidente da direcção, Júlio de Carvalho, decidiu “passar” a pasta, afirmando a necessidade de alguém que programe uma série de actividades com alguma intensidade, de ordem artística, cultural e social, por forma, a assinalar a data memorável que se avizinha. “É altura de mudar, com pessoas mais novas, com outra dinâmica, perspectiva e programação, e o Clube, neste momento, precisa disso. Sobretudo, numa fase em que estamos nas vésperas de comemorar os 100 anos de existência”, explicou o responsável, que sublinhou uma saída “de consciência tranquila”.
Na Assembleia Geral, conduzida em sede, a 19 de Fevereiro, o dirigente demonstrou entender que não se deve liderar uma instituição por mais de 4 anos, “é demais, acabamos por nos sentarmos à sombra da bananeira e fazemos pouco, acomodamo-nos.” Por esse motivo, candidatar-se-á uma lista fomentada pelo próprio Júlio de Carvalho, presidida por João Genésio, “um rapaz novo, dinâmico”, ligado ao Clube do Bairro da Mãe de Água. “Espero que a nova direcção desenvolva algum tipo de actividade que marque, de forma retumbante, a celebração do centenário”, revelou.
Este Clube marcou um período fundamental de Bragança, pois era um parceiro estratégico de grande maioria das instituições, no sentido de edificar o desenvolvimento da cidade. Por exemplo, “no campo da saúde, recordo-me deste Clube ter desempenhado um papel importantíssimo na criação do hospital de Bragança e de outros equipamentos de relevo, em planos directores, de fomento e urbanização, no campo cultural, com a promoção de muitas actividades pelas quais o Clube se tornou famoso, por uma série de eventos sociais que se praticaram aqui durante décadas, em que era o centro de atracção, por vezes, com um excesso de elitismo”, declarou o ainda presidente da direcção.
Um dos aspectos indeléveis que pesam no feito de Júlio de Carvalho, nos meandros da direcção do Clube de Bragança, foi, indubitavelmente, a renovação de todo o espaço físico da sede da associação. “Quando assumi o cargo, o Clube estava degradado fisicamente, chovia por todo o lado, pusemos um telhado totalmente novo, o chão estava com umas alcatifas tão velhas e podres que eram um foco de infecções, nós retirámo-las, as janelas estavam a cair, a instalação eléctrica foi refeita, portas, palco, tudo destruído, pintámos o interior e o exterior. De maneira que, fizemos esse trabalho, que foi imensamente caro, e investimos aqui muito dinheiro. Graças a apoios, renovámos equipamentos interiores, como a televisão e um bar novo”, relembrou a face do clube.
A nível de iniciativas e personalidades que marcaram presença na história do Clube, tornando-se parte dela, revive, “desenvolvemos algumas actividades de carácter político, nomeadamente, debates importantes, com deputados e candidatos às câmaras. Tivemos, no lançamento de um livro, o deputado Modesto Navarro, que o apresentou, outro lançamento tratou-se de um livro sobre o Clube, do professor Marcolino Cepeda, tivemos também o Nuno da Câmara Pereira, num grande espectáculo. Durante uma semana, tivemos uma mostra de cinema transmontano, em colaboração com a Cinemateca Nacional, imensos debates, uma monja budista e outros eventos culturais, como exposições de pintura, escultura e fotografia.”
Júlio de Carvalho asseverou que, hoje em dia, é mais difícil promover, com êxito, esse tipo de iniciativas, pois há uma maior oferta, "de qualidade superior", contra a qual não podem competir. “A Câmara Municipal de Bragança, a título de exemplo, dispõe de edifícios excepcionais para esse tipo de eventos, como o Teatro Municipal e o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais. Nesse sentido, o Clube terá de encontrar meios de inovar, com o intuito de sobreviver. O desporto é uma alternativa viável, assim como actividades que não envolvam uma concorrência directa com outras instituições de carácter cultural”, desvendou o dirigente, que permanecerá, "para sempre", ligado ao Clube de Bragança.

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