29 de julho de 2010

ESQUECIDA, MAS NÃO PERDIDA

Um caminho digno de acesso ao cemitério, construção da Casa do Povo concluída e estradas da aldeia arranjadas são algumas das pretensões dos habitantes de Cabeça de Igreja

“É a aldeia mais pobrezinha do concelho de Vinhais. Quero que fotografe isto tudo! O presidente não faz nada e a junta de freguesia (de Tuizelo) muito menos. Dizem eles que não há dinheiro para fazer as obras. Mas algumas aldeias estão bem ajeitadinhas. Deve ser mais amigo de alguns do que dos outros”, desabafa Francisco António Gonçalves, um dos muitos habitantes de Cabeça de Igreja.
Emigrado em Angola durante 15 anos, este homem, que se dedica, ainda, à pastorícia, criando 2 vacas e um vitelo, manifesta-se contra a falta de zelo por parte dos autarcas, afirmando que, a aldeia não está perdida, mas, antes, que foi esquecida no espaço e no tempo.


“Deviam limpar isto e fazer umas obrazinhas que fazem muita falta por aqui. Um caminho para o cemitério que daqui a pouco nem a funerária lá vai. As estradas da aldeia estão todas esburacadas. Temos a casa do povo para acabar, pararam as obras e nunca mais recomeçam”, lamenta
Francisco António Gonçalves chega mesmo a comparar o feitio da casa do povo com o de um palheiro: “são dois palheiros, a escola velha e a casa do povo que estavam a construir”.
Filhos tem dois. Um na Marinha e uma jovem prestes a concluir o curso de Farmácia. “Comprei um carro novo para ela de presente assim que terminar o curso. Já está ali em baixo, à porta de casa, à espera”, revela o pai babado. Mas não está sozinho... “Mulheres tenho as que quero, mas estou com uma rapariga nova”, de 50 anos.


Com mais de 100 habitantes, Cabeça de Igreja está inserida no habitat do Parque Natural de Montesinho e tem vários pontos de interesse como a Serra da Coroa e o rio Rabaçal, com direito a praia fluvial.
Como património arquitectónico, destaca-se a Igreja de S. Bartolomeu, que é, também, o padroeiro da aldeia. A Festa de S. Bartolomeu é a 24 de Agosto e, segundo João Batista Borges, é nesse mês que “vem muita gente”. Regressou de Bordéus após 30 anos “a cortar pinho”. “Estive em França, mas já estava cheio de estar por lá. Quando cheguei, ainda botei vacas e andei com a lavoura, agora, já não faço nada. Vendi tudo que eu e a patroa estamos doentes”, revela este pai de uma professora em Vila Pouca de Aguiar.

A Casa do Povo, "o barraco", ainda, por construir

TESTEMUNHOS

João Batista Borges, 81 anos

“Aqui estão a morar poucos pessoas. São cerca de 30 fogos com duas, três ou quatro pessoas em cada um. Mas no mês de Agosto vem muita gente!”~

Delfim do Nascimento e a burra, Jibóia

“Vim agora do campo de carregar umas batatas. Ainda dá para plantar, mas pouca coisa. Tenho a vinha, feijão e batata, para comer só.”

Francisco António Gonçalves, de 76 anos

“Tenho duas vaquinhas que sou pobrezinho. A Rocha, que está grávida, e a Castanha. E mais um vitelo. Não sei que nome lhe ponha... Que é que acha? Tarzan ou Hércules?”



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