11 de julho de 2010

A TERRA DAS TRÊS CAPELAS

Aldeias do concelho de Vinhais são um arco-íris na Natureza e deslumbram pela honestidade das suas gentes e beleza selvagem das suas paisagens

Os mais novos partiram! Para trás deixaram a terra-mãe e uma geração intermédia que os aguarda, impacientemente, por um mês de Agosto. Os emigrantes fazem a Festa e partem com a aldeia no coração. O povo, pouco, faz tudo por tudo numa tentativa de manter vivas as histórias e a tradição. No concelho de Vinhais, estão algumas das aldeias mais intrigantes, rodeadas por paisagens de cor viva esperança de cortar a respiração. Inseridas no Parque Natural de Montesinho, banhadas por rios imersos na boa vontade de gente, ainda, verdadeira, que, por companhia, mais e mais conversa anseia.
“Cruz de Revelhe, antes, era À Cruz porque este caminho ia para outras terras, atravessava Caroceiras para Cabeça de Igreja e atravessava Revelhe para as Peleias”, conta Ana dos Anjos Lopes, sobre a mesma estrada que vai dar a Chaves e a Espanha. “Só que está é um bocado ruim, e há menos movimento, porque há outra estrada melhor que vai ter ali por Lomba até Rebordelo e vai muita gente por lá que já não passa por aqui”, acrescenta o seu filho, António Lopes Augusto.
Foi o pai de António, o falecido marido de Ana Lopes, que, juntamente, com o seu irmão, oriundos de Caroceiras, ajudaram na construção da estrada que agora passa por Cruz de Revelhe. Na altura, feita a “a pá e pico”.“Eles sempre quiseram fugir para aqui porque ao passar a estrada botaram o negócio”, relembra António, o, agora, proprietário do único café e comércio, que procura, à beira da estrada, a oportunidade de negócio.


“A taberna tem pouco movimento. Há dias! Agora ao vir o Verão e tal! Já há mais movimento. Os vendedores ambulantes andam de porta a porta e dão cabo do negócio. Eles trazem tudo. Os da aldeia quando se esquecem de comprar aos outros é que vêm aqui”, lamenta o taberneiro, um homem que, também, se dedica à lavoura. “Esta terra dá de tudo um pouco, batatas, milho, cebolas, mas é só para gasto da casa”, garante.
Numa época anterior a Cruz de Revelhe, fundada em 1958, já existia Revelhe. Situada nem a 1 quilómetro de distância. Nestas duas localidades, que são quase uma e a mesma só, existem três capelas: Santa Bárbara e S. Tomé, de Revelhe; e Capela da Sagrada Família, em Cruz de Revelhe.
Segundo a septuagenária, assim, nasceu a Capela de S. Bárbara: ““Era um senhor que ainda há pouco tempo faleceu. Os familiares ainda lá estão. O senhor esteve muito doente, chamavam-lhe Adolfo, e então pediu uma esmola pelas aldeias para ele curar a doença muito má. Até ali o dinheiro não havia, uns davam 1 quarto de pão e outros davam o que podiam”. A Capela de S. Tomé é a mais antiga das três.

“Pescam boas trutas, bogas, robalos, vem muita gente de fora pescar para o rio Rabaçal”

Também a Capela de Cruz de Revelhe foi construída pelos próprios habitantes. “Fomos nós que comprámos tudo, a aldeiazita, comprámos o santo, fizemos a capela, fomos tudo nós. Ainda nem há 20 anos que construímos a Capela da Sagrada Família”, diz-nos o seu filho, nascido na Cruz de Revelhe. A morar, neste lugar, estão cerca de 17 pessoas. No entanto, no Verão, regressam cerca de 10 a 12 emigrantes que incentivam aos preparativos da Festa da Sagrada Família, no último Domingo de Julho.
Na aldeia de Revelhe, estão, ainda menos, apesar de ser a mais antiga. Cerca de 7 habitantes. Os mesmos que, garantem, que a aldeia no mês de Agosto atinge as 30 pessoas. O seu padroeiro é S. Tomé, mas a Festa é de Santa Bárbara, no primeiro domingo de Agosto.
“Fazemos aqui uma festa bonita, a capela foi feita de novo agora (remodelada), fizemos lá um largo grande. É uma noite com conjunto e tudo, mas temos luz na capela, as vezes a câmara lá empresta o gerador”, descreve Elias Emílio Afonso. De vez em quando, este agricultor de cereal, pão, batatas e feijões, parte de Revelhe para regressar a França, com o intuito de “matar saudades” de Clairmont, cidade que o acolheu e onde trabalhou durante 40 anos.
Quer em Revelhe, quer em Cruz de Revelhe, quando “parte alguém”, a festa, simplesmente, não acontece, e mandam-se rezar missas em memória daqueles que faleceram. “Uma vez morreu um primo nosso, outra foi um rapaz novo, de 40 e poucos anos, que era nosso amigo e até parecia mal fazer festa, ora não é?”, pergunta-nos Ana dos Anjos Lopes.
Para além do rio de Peleias, o rio Rabaçal, a 4 km da Cruz e de Revelhe, é outra das mais valias da região. Um autêntico paraíso no meio da imensidão local, incluindo, até, uma praia fluvial. Um poiso para turistas, veraneantes e, acima de tudo, pescadores. “Pescam boas trutas, bogas, robalos, vem muita gente de fora pescar”, desvenda António.
Paisagens deslumbrantes sublimam terras ricas e apaixonantes


1 comentário:

  1. Ola, foi o meu avo Fernando Alberto mais o seu irmao Firmino Dos Anjos e o outro irmao Antonio Agusto que construiram a capela e fundaram a aldeia de Cruz-de-Revelhe.

    Por isso lhe chamao os farrapeiros, porque a mae d'eles para os podere criar tinha que andar de aldeia em aldeia a vender farrapos.

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