O turbante e o forte sotaque argentino são a imagem de marca do Chefe argentino Chakall. Para além de dois restaurantes, o segundo aberto, recentemente, no Porto, este mestre da culinária exerceu a profissão de jornalista no diário El Cronista de Buenos Aires e era crítico de música para a Rolling Stone antes de partir do seu país de origem. Desde a sua chegada a Portugal, já participou e protagonizou diversos programas televisivos, nomeadamente, na Sic Mulher. Nos últimos tempos, foi-lhe atribuído um prémio internacional pelo seu livro “Cozinha Divina”, fruto da sua vocação de eterno viajante.
ENTREVISTA
1 @ Este país recebeu-te de braços abertos e aqui tens conhecido o sucesso. Como vieste parar a Portugal?
R: Vim a Portugal por um ano, preparar uma viagem a África, onde estive, depois, dois anos. Mas, voltei, e fui ficando... Gosto muito! Acho que é um país fantástico para se viver.
2 @ Ficarás por cá? Dado que a tua família está na Alemanha...
R: É uma pergunta para a qual eu não tenho resposta. Eu estou aqui porque gosto e vou ficando, vou ficando, o dia em que não goste, partirei. Uma manhã, decidi sair da Argentina e, três meses depois, tinha-me ido embora. Vendi tudo, deixei tudo porque estava chateado comigo mesmo no país onde vivia. Estou sempre a viajar... Trabalho em França, no Médio Oriente, na China. Ainda, agora, abri outro restaurante no Porto, mas não há dinheiro que me faça ficar fechado num restaurante. Preciso ar, estar com pessoas, mudar completamente...
3 @ Mas porque é que não trazes a tua mulher e os teus três filhos para a tua mais recente morada?
R: Já cá estiveram, mas é difícil por causa da escola. Não consegui lugar na creche na Lourinhã durante um ano e meio. A política neste país é uma vergonha, fecha os hospitais e obriga as pessoas a viver na cidade. Viver no campo é suicida!
4 @ Já passaste por todos os continentes? E se tivesses de escolher um...
R: Já estive em todos, mas o meu continente preferido é África! Sem dúvida! A gente, as pessoas, não é um lugar para viver porque tens um lado mau, a miséria e a pobreza, mas é um lugar fantástico humanamente. Adoro África, pois acho que é muito pura! Agora, para viver, Portugal, precisamente onde vivo, na Lourinhã. Cada país tem as suas particularidades. Não há países perfeitos, mas, para mim, este é o menos imperfeito.
5 @ Em que é que te inspiras para criares algumas das tuas receitas?
R: No dia-a-dia! Em comer... Agora, por exemplo, vou perguntar onde é que se come bem e, se calhar, uma pequena coisa que aprenda pode dar-me um click e inspirar-me. Viajar e conhecer pessoas é o melhor para fazer novas coisas.
6 @ Estás sempre muito bem disposto, brincas com as pessoas, dás música aos convidados e danças enquanto cozinhas. Para além do turbante e do sotaque, essa é a tua imagem de marca como Chefe?
R: É uma brincadeira que eu faço. Eu rio-me um pouco do estereótipo do chefe de cozinha com toda a sua seriedade. Não é preciso estar com cara de mau ou mandar numa cozinha aos gritos. Sou a quarta geração de cozinheiros na família e já vi de tudo. A minha mãe era um sargento dentro da cozinha, mas eu acho que se trabalha muito melhor e com melhores resultados se estamos tranquilos. Respeito. Não é preciso estar com uma faca a perseguir os empregados ou gritar e sentir-se um ser superior como eu acho que acontece muito com os chefes.
7 @ Porquê a música enquanto confeccionas as tuas receitas?
R: A música faz parte da vida! Eu sou jornalista de formação... Trabalhei 7 anos num jornal como crítico de música. Por isso, música e comida acho que são vida!
8 @ Como te iniciaste na cozinha?
R: Eu com 15 anos já era chefe de cozinha no restaurante da minha mãe, onde cresci. Mas fartei-me da cozinha e ingressei no jornalismo. Ainda gosto e escrevo e faço um pouco de tudo. Eu acho que nunca deixamos de fazer nada na vida, vamos é acrescentando outras coisas. Vou escrevendo uns artigos para uma revista de viagem, sob o ponto de vista de um cozinheiro. Falo de tascas e não só de Portugal, mas também de fora. Aproveito e tiro umas fotos e faço umas brincadeiras sobre a visão de um chefe de outro tipo de comida.
9 @ Agora, está na moda um novo tipo de cozinha, a molecular? Que opinas?
R: É uma palhaçada! Não é o meu estilo, eu vivo no campo, sempre fui saloio e não me interessa pôr químicos na minha cozinha.
10 @ Projectos a curto-prazo? Alguma ideia em mente?
R: Agora, vou fazer uma roadtour por Portugal e virei a Trás-os-Montes. Bragança e Mirandela estão na rota desta viagem pelo país. Irei fazer novos pratos transmontanos com produtos da região. Vou inventar uns novos... É uma roadtour com uma carrinha, uma cozinha portátil e vou cozinhando utilizando só produtos locais. Já começou e vai durar até Setembro. Tenho é de combinar com as Câmaras para incluir as suas localidades dentro do percurso. São 24 Câmaras, 3 receitas por cada, e a ideia é fazer um novo livro de culinária com 72 novas receitas utilizando só produtos locais. Há muitos produtos que se exportam e os portugueses não conhecem.
11 @ E para quando o teu regresso à televisão?
R: Estou a gravar um novo programa para a televisão, “Chakall e Pulga”, em que viajo pelo país de mota com o minha cadela. Passará na Sic Mulher em Setembro ou Outubro... Também estou a gravar na China para a National Geographic e na Alemanha para um outro canal.
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