Por entre as brumas da tradição de uma tarde de Novembro, as ruas que dão acesso ao Instituto Politécnico de Bragança (IPB) são inundadas por centenas de pessoas. Cafés repletos de fumo, um barulho ensurdecedor, cânticos dos vários cursos ecoam por entre os muros de uma cidade sitiada por novos alunos. É a Semana de Recepção ao Caloiro 2010.
É costume dizer-se que o filho pródigo regressa a casa. Mas, para regressar, tem de partir primeiro e neste último caso, pode muito bem vir parar ao IPB. Quando isso acontece, a dor patente na quebra dos laços familiares de proximidade é evidente. “O que mais me custa é separar-me dos meus pais. Habituada à comidinha caseira, sempre a horas na mesa, roupa lavada, casa arrumada… Agora, sem os meus pais, tenho de me desenrascar sozinha”, confessa Patrícia, cujo olhar de caloira, ainda, a denuncia. “Comprei um despertador e, mesmo assim, não é fácil acordar de manhã cedo”, revela.
Depois de uma “má experiência”, no primeiro apartamento, Patrícia procura, entre folhetos e balcões de café, um porto tranquilo onde possa encontrar aquele sossego típico da casa dos pais. “Está a ser difícil! Estive perto de um mês num apartamento com mais quatro pessoas, mas era uma confusão… Muitas das noites, nem conseguia dormir. Para quem tem de acordar às 8 horas, é complicado. Agora, já fiz uns telefonemas e vou ver se encontro uma casa ou um quarto mais calmo”, desabafa.
Percorro, agora, os corredores solitários do IPB. Passam 10 minutos das 16h. Alguns professores esperam pelos alunos, mas estes parecem não comparecer. As salas estão quase vazias, o silêncio só é abafado pelo ruído que vem de fora, dos motores em rebuliço, das conversas alheias, das chamadas praxes “integradoras”.
Ao cruzar de uma esquina, encontro Liliana, outra caloira, descontraída quanto baste. “Já estou em Bragança há cerca de um mês. A habituação foi relativamente fácil, já tenho imensos amigos e as pessoas aqui são muito simpáticas. Tenho saído muito! Aulas, nem por isso”, confidencia. No que diz respeito à família, exterioriza: “Para mim, foi mesmo o mais difícil! Como sou de longe, passo muitos fins-de-semana aqui em cima, já que a viagem é longa e dispendiosa. Mas falo com os meus pais, praticamente, todos os dias para minorar a saudade e a distância que nos separa”.
Patrícia e Liliana fazem, agora, parte dos cerca de 8 mil estudantes do Politécnico. A primeira evidencia-se receosa quanto ao seu futuro próximo, enquanto que, Liliana demonstra, no seu semblante, mais confiança e outro entusiasmo. Talvez por desfrutar de certas liberdades pré-adquiridas em tenra idade, talvez pela intimidade de já tratar por Tu a cidade. “No Algarve, eu e as minhas amigas saímos constantemente. Os meus pais sempre foram pessoas muito liberais, por isso, esta vida de estudante estranha numa cidade estranha não me assusta. Pelo contrário, estou ansiosa pelos anos que aí hão-de vir”.
Recepção de Boas-Vindas aos caloiros do IPB no auditório ao ar livre
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