Poesia servida em banho de êxtase encerrou a devida homenagem ao médico que sonhou, um dia, ser actor
Em jeito de despedida, ex-colegas de Emílio Jorge Maia Gonçalves, médico recentemente reformado, brindaram-no com um jantar convívio entre amigos. No Hotel S. Lázaro, foram cerca de 30 os convidados de honra a homenagearem o médico aposentado do Centro de Saúde de Bragança.
“Acho que não mereço nenhuma homenagem, para mim isto é mais um convívio entre colegas. Não deixa de ter um sentido de despedida porque já não exerço activamente a profissão há três anos. Por isso, posso dedicar mais tempo à poesia”, avançou Emílio Gonçalves, no vigor dos seus 70 anos. E assim o fez, no final do jantar, depois da entrega de um ramo de flores, com um recital de poesia. Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, é o seu poeta de eleição. Leu alguns dos seus poemas e outros de amigos, poetas conhecidos. Sophia de Mello Bryner Anderson também integrou a sua selecção. Uma poetisa que ele considera como “uma das grandes”. “Eu gosto muito de poesia. Estudo-a há 50 anos. Todos os dias, eu leio poesia! É uma vitamina! Eu não posso viver sem ler, sem buscar, sem recitar poemas. Todos os dias!”, confessou, quando questionado se a poesia é algo que lhe é recorrente. Procurando defini-la, assevera: “Poesia é a música das palavras”.
Começou por exercer como alferes-médico, ou médico militar, em Moçambique durante cinco anos. Depois, veio para Portugal onde esteve no Hospital de Santa Maria (Lisboa), Hospital S. João (Porto) e em várias clínicas particulares. A vinda para Bragança foi, como o próprio descreve, “um regresso às origens”, já que os seus pais foram fruto da região. Apesar de ter nascido em Campanhã, no Porto, hoje, garante que o seu sentimento de pertença respira em Trás-os-Montes. Para além da sua preferida, a poesia, Emílio Gonçalves cultiva, também, outras essências artísticas como a pintura e a escultura.
Emocionado, ao terminar "tamanha interpretação sentida", revelou num tom confessional: “a minha grande paixão era ser actor de teatro ou, então, decorador”. Sonhos que não alcançou, por imposição parental. “Não cheguei a ser porque dependia economicamente dos meus pais… Os tempos eram outros e tive de me formar em medicina. Não foi errado, mas medicina não era a minha primeira opção”, desvendou.
Reformado com 38 anos e 4 meses no activo, Emílio Gonçalves assegura ter apregoado uma frase que não é sua, algures na sua carreira em clínica geral: “Eu amo os meus doentes!”, justificando: “todo o médico que ama os seus doentes, é um grande homem e é um grande médico!”
Sem comentários:
Enviar um comentário