Tradição e história confundem-se em Arcas… Uma aldeia que conserva a veracidade dos sentimentos
Na cadeia montanhosa transmontana, bem no topo do mundo, bem próximo da Torre de D. Chama, concelho de Mirandela, está Arcas. Uma aldeia singela em ebulição com o passar dos tempos. Começando por ordem cronológica, há algumas datas assinaláveis que marcam os destinos do movimento neste povoamento tipicamente nordestino. Assim, no último domingo de Fevereiro, tem lugar a Feira Rural Arcas. “A Feira tem de tudo o que cá há e até traz muita gente à aldeia. Também depende do tempo. Há a batida ao javali e faz-se e dá-se de comer. Temos os cantares, os bombos e quatro gigantones”, desvenda Leonida Peixeiro. Esta mulher, de 60 anos, ainda trabalha no campo, na azeitona e nas vinhas. “Temos de tudo”, avança, referindo-se aos produtos da terra.
Continuando, na capela do Divino Senhor dos Passos (fora do povo), acontece a festa principal, no segundo domingo de Agosto (em 2011, será a 14 de Agosto). A 25 de Novembro é Santa Catarina, padroeira de Arcas.
Um dos ex-líbris desta eterna paisagem verdejante, rodeada por cumes que se assemelham a arranha-céus, é a Associação Desportiva e Recreativa das Arcas. De acordo com um dos elementos da direcção recém-empossada, Francisco Martins, a Associação foi fundada em 1986, tendo sido reactivada pela segunda vez em 2008. “Há muitos anos, tínhamos aí dois ou três bombos e juntávamos um pequeno grupo para umas brincadeiras. Depois, o pessoal começou-se a incentivar para arranjarmos um grupo de bombos. Entretanto, passou-se uma dúzia de anos até que, em 2008, organizámo-nos e comprámos mais alguns. Foi aí que decidimos pôr a Associação a trabalhar”, conta Francisco.
Para além do grupo de bombos, a colectividade dispõem, ainda, de um Grupo de Cantares Tradicionais e de um outro, os Pandegos. Neste último, integram uma caixa e um acordeão como instrumentos musicais. “Estamos aqui para continuar porque houve eleições recentemente, e nós tomámos posse foi por 2 anos. Praticamente, é a mesma direcção e vamos trabalhar”, promete.
Arcas! Terra fértil da azeitona, da uva, da batata, do tomate, da cebola e do feijão.
Mas, nem só de fortuna natural e associativa se vive em Arcas. Esta aldeia tem, também, as suas necessidades. “Agora, há muito pouquinha gente. Primeiro havia muitas famílias, já da minha lembrança. Quando era mais nova… Eu tinha um tio com 12 filhos”, afirma Maria Augusto Peixeiro. Nascida em 1928 nas Arcas, esta octogenária trabalhava no campo quando era mais nova, onde “ia à jeira” e ajudava os seus pais. “Tínhamos oliveiras, terras, íamos à cegada e a cavar as batatas. Agora não! Agora, já estou na reforma”, lembra.
Maria Peixeiro calcula em cerca de 100 o número de habitantes na aldeia. Apesar do seu tamanho considerável, ela afirma que muitas das casas estão por habitar. . “Eu às vezes venho à rua e não vejo uma alminha aqui no povo. Assim que se forem embora os emigrantes é uma vassoura”, ironiza, no alto dos seus 82 anos.
Desgastada pelos tempos das memórias, Arcas ostenta uma população envelhecida, onde os novos não abundam e ou poucos que poderia haver, partem na tentativa e esperança de encontrarem um futuro melhor. “Há mais pessoas idosas. Agora os novos, não está aqui nenhum. No mês de Agosto é que vêm cá muitos emigrantes. E, depois, em Dezembro também, a apanhar a azeitona”, revela Palmira Seixas. “Os poucos jovens que temos trabalham fora, em Macedo, Bragança, e só regressam ao fim-de-semana”, acrescenta.
Arcas valoriza-se constantemente e dia-a-dia pelo turismo, pela simplicidade e o saber receber das suas gentes. O solar e a Igreja matriz são, também, pontos de referência. “A igreja é muito bonita, mas muito pobrezinha”. No entanto, frisa Palmira: “é muito limpinha”. Bem como o resto da aldeia...
UMA LENDA PELA VOZ DO POVO
Bem no centro da aldeia, na “avenida” principal, está um dos palacetes de Arcas, pertencente aos abrasonados Pessanha, umas das famílias mais seculares do “antigo reino”. Reza a lenda que um dos seus membros, namorava ou melhor pretendia namorar a filha do Rei. Mas Ele não queria dar a mão do seu rebento ao jovem Pessanha. No Dia do Corpo de Deus, o pretendente, preparado que tinha o seu cavalo a favas, cavalgou rumo a Badajoz e na procissão roubou a bandeira. A mesma que atirou, depois, para dentro das muralhas de Elvas. “Morreu o homem, ficou a fama”, diz o povo. Do mesmo homem que terminou frito numa caldeira a sua jornada em banhos de azeite pelas mãos dos espanhóis, a mando do Rei. A caldeira é, ainda, a par de outros, um dos elementos constituintes do brasão. (Fonte: habitantes de Arcas)
TESTEMUNHOS
Maria Augusto Peixeiro, 82 anos
“O que faz falta aqui é trabalho! Que andam aqui muitos sem emprego! Mas olhe, lá se desengomam. Uns vão para Macedo de Cavaleiros, outros andam nas estradas a trabalhar.”
Palmira Seixas, 74 anos
“Esta aldeia tem muita casa e pouca gente. Mas o que falta mais aqui é saúde porque há muita gente doente e a saúde é pouca.”
Francisco Martins, da Associação Desportiva e Recreativa das Arcas
“Actuamos aqui em Arcas e noutras aldeias vizinhas. Ainda não somos muito chamados porque o grupo ainda é recente.”
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