O dia-a-dia, as instalações recentes, estatísticas e uma mais-valia no combate aos incêndios da primeira força a chegar ao terreno
Coragem, destreza e preparação física são apenas três dos factores essenciais e comuns a todos os elementos que integram o Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro (GIPS). No distrito de Bragança, está sedeada a 7ª Companhia do GIPS, divida em dois pelotões. Um em Alfândega da Fé, com novo quartel, ainda não inaugurado, e com o Centro de Meios Aéreos (CMA) na Serra de Bornes, e outro instalado, provisoriamente, no Comando Territorial de Bragança, com o seu CMA na Serra da Nogueira. Ambos os pelotões dispõem de um helicóptero preparado para o combate às chamas, que, para além do piloto, leva uma brigada de 5 elementos do GIPS.
Aos 26 anos, Jorge Castelo Barbosa era já o Comandante da 7ª Companhia do GIPS. Agora, com 27 anos, feitos, recentemente, a 29 de Julho, este militar será, muito provavelmente, o comandante mais novo de uma qualquer força de segurança. Terminada a Academia Militar em 2007, a 10 de Maio de 2008 ficou como Comandante de pelotão no CMA de Vidago, um pelotão da 5ª Companhia de Vila Real. Com a saída do comandante da 7ª Companhia de Bragança, foi nomeado, desde o dia 6 de Janeiro, comandante interino, apesar de ainda estar colocado na 5ª companhia. A partir do dia 30 de Abril, começou a desempenhar funções como comandante efectivo da 7ª Companhia, tendo, assim, sido promovido de comandante de pelotão a comandante de companhia.
“A minha experiência está a ser bastante agradável e esta realidade é muito semelhante àquela que eu encontrei em Vidago, na 5ª Companhia. Na prática, o GIPS, a nível nacional, funciona praticamente da mesma forma e em termos, quer de terreno, quer de demografia, este distrito é bastante semelhante ao de Vila Real”, afirma o Tenente Barbosa.
Quanto às novas instalações, o comandante da 7ª Companhia explica: “Uma das minhas preocupações quando cheguei à 7ª Companhia foi tentar melhorar os alojamentos e as próprias condições dos militares. Na altura, as instalações eram provisórias e bastante precárias”.
Câmara Municipal de Alfândega da Fé cede infraestruturas ao pelotão do GIPS de Bornes
Com o objectivo de melhorar a qualidade de vida dos militares, conseguiu-se para o pelotão do GIPS de Bornes um edifício cedido pela Câmara Municipal de Alfândega da Fé, que os militares reabilitaram com o apoio da autarquia e que, actualmente, permite ao GIPS estar muito melhor instalado do que estava até à data. A mudança do pelotão verificou-se em fins de Junho e as novas instalações serão inauguradas, provavelmente, ainda, em Agosto. “Estamos sempre condicionados pelas condições meteorológicas e requisições operacionais porque o trabalho prevalece sobre tudo o resto”, avisa.
Relativamente às instalações de Cova de Lua, o GIPS contou com o apoio da Autoridade Florestal Nacional que lhe cedeu as instalações. Já a sua reabilitação ocorreu através do Governo Civil de Bragança, que lhe proporcionou as condições necessárias, financiando as obras que foram realizadas com o intuito do GIPS se poder instalar naquele quartel. Actualmente, o pelotão do GIPS de Nogueira está sedeado no Comando Territorial da GNR de Bragança. De acordo com o Tenente Barbosa, “as instalações do comando são algo precárias, não têm capacidade para abarcar todos os militares, nem as condições ideais de funcionamento de um pelotão com as nossas funções, teremos mesmo que mudar”. Uma mudança que estará para breve, talvez, mesmo, para o mês de Agosto. “Não sendo tão premente a necessidade do pelotão de Nogueira mudar de instalações, optou-se por, primeiro, preparar o quartel de Cova de Lua e quando ele ficar praticamente concluído executa-se a transferência num dia ou dois”, revela.
O novo quartel de Cova de Lua, sendo uma mais-valia pela sua óptima localização, junto ao Parque Natural de Montesinho, só tem uma desvantagem, segundo o Tenente Barbosa, dado que “existem sérias falhas nas redes de telemóvel, o que dificulta a fluidez de comunicação”.
“Somos uma força que está bem equipada para as funções que nos são atribuídas”
Em 2009, a 7ª Companhia do GIPS efectuou 546 intervenções em incêndios florestais. Para além de outras ocorrências, não contabilizadas, como, por exemplo, missões de resgate, socorro na neve e busca de pessoas desaparecidas.
Em 2010, e até 15 de Julho, a 7ª Companhia executou 88 intervenções efectivas. Entre as quais, a grande maioria saldou-se como um sucesso. Em termos de intervenções heli-transportadas, os concelhos com mais ocorrências têm sido Bragança e Vinhais, com um ligeiro pico em Mirandela.
Contudo, o GIPS desempenha, sempre que lhe seja solicitado, funções policiais de apoio ao Comando Territorial, reforçando operações de fiscalização de trânsito, de buscas domiciliárias, entre outras. “Temos a missão atribuída de segurança às forças que executam esse tipo de missões. Somos bastante solicitados pelo Comando Territorial que nos diz, semanalmente, qual é que será a previsão de empenhamento. Estamos sempre prontos a intervir, quer em operações policiais, quer em operações de Protecção e Socorro”, informa o comandante da 7ª Companhia.
Quanto à polémica gerada há uns meses atrás, sobretudo, no que concerne às relações com os bombeiros, o Tenente Barbosa faz questão de frisar: “Desde que estou à frente da 7ª Companhia, as relações com os Bombeiros, Protecção Civil e todas as outras entidades com que lidamos diariamente, têm sido muito cordiais e, em termos operacionais, a cooperação é a 100 por cento”.
No que diz respeito ao modo de funcionamento dos dois pelotões que constituem a 7ª Companhia, ambos divididos em 3 equipas, duas estão de serviço, enquanto que uma está de folga. Das equipas em serviço, uma está de prevenção durante 24 horas, o que quer dizer que durante este tempo, a equipa deve, a qualquer momento, estar preparada para intervir com uma prontidão mínima de 10 minutos, mesmo durante a noite. Se for durante o dia, num minuto, sensivelmente, a equipa estará preparada para descolar no helicóptero.
A abertura do CMA depende da altura do ano, mas a equipa que está de prevenção ao helicóptero começa a preparar-se às 7 da manhã. Passado meia hora, está na heli-pista, onde se faz um briefing com o piloto, o operador da protecção civil e toda a equipa, se verifica todo o material, a aeronave, as condições atmosféricas, as previsões, onde andará a equipa terrestre, ou seja, todo o planeamento para esse dia. A equipa do helicóptero, até ao encerramento do CMA, não se afasta da aeronave, à espera de um potencial alerta para sair. Ao pôr-do-sol, aquando do encerrar do CMA, a equipa recolhe à sede do pelotão e mantêm-se ao serviço até às 9 horas do dia seguinte. No CMA de Bornes, a equipa recolhe ao quartel de Alfândega da Fé e, no caso do CMA de Nogueira, a equipa recolhe ao Comando Territorial de Bragança, por enquanto, onde permanece pronta a intervir. Durante a noite, o helicóptero não voa e todas as intervenções do GIPS são terrestres.
“O treino físico é fulcral para o bom desempenho das nossas funções"
“Visto o GIPS ser uma força de primeira intervenção, se demorarmos uma hora a chegar ao local, dificilmente será esse o caso. O que se espera de uma força como a nossa, é que no período que exerce a sua missão, esteja no topo de forma, pelo que a Protecção Civil resguarda um pouco a intervenção nocturna”, adianta o responsável.
Se a equipa que esteve no CMA e regressou ao quartel, depois de este fechar, tiver de sair para uma intervenção terrestre, outra equipa é activada, tendo, apenas, uma hora para se apresentar na sede do pelotão. Esta, poderá, logo que pronta, ser lançada para o terreno. Ainda há a hipótese da equipa que está de folga ser chamada também, o que não é frequente, mas pode, eventualmente, acontecer. A equipa que esteve no CMA, no dia seguinte, às 9 horas, continua ao serviço, mudando para terrestre. Faz a verificação do material e das viaturas, a manutenção das instalações, exercício físico e, depois, normalmente, faz uma patrulha de seis horas na altura crítica do dia, que será entre as 13 e as 19 horas. Depois de algumas averiguações, a equipa é dispensada, tendo de regressar, de novo, na manhã seguinte, por volta das 7:30 horas.
Após 6 dias de serviço, uma equipa dispõe de 3 dias de folga. No entanto, todos os seus elementos terão de estar contactáveis com uma prontidão máxima de 3 horas. “Durante estes seis dias, há uma alternância dos turnos nas equipas entre as 24 e as 12 horas. É esta a exigência para os militares do GIPS, o que é bastante pesado para um militar”, expõe o comandante.
Na tarde em que ocorreu este entrevista, a equipa de prevenção ao helicóptero da Serra da Nogueira foi “projectada” para Carção, onde debelou um fogo com sucesso. Já a equipa heli do CMA na Serra de Bornes, teve um alerta para o concelho de Mogadouro, que foi abortado, e o sentido da missão mudado para Mirandela, onde decorria um incêndio que lavrava com “elevada intensidade”.
“Em termos operacionais, o nosso raio de acção mede-se em relação ao raio de acção do helicóptero. Assim, são medidos 35 quilómetros a partir da heli-pista e nesse raio nós fazemos a intervenção. Deste modo, os concelhos de Freixo de Espada à Cinta, de Mogadouro e de Miranda do Douro, fiquem um bocado afastados desse raio de acção. Nós intervimos na mesma sempre que solicitados. Contudo, e dado tratar-se do Parque do Douro Internacional, seria uma mais-valia arquitectar-se uma forma de cobrir esses concelhos com uma terceira aeronave”, defende o Tenente Barbosa. Uma questão já abordada pela Protecção Civil e que está, presentemente, a ser estudada.
Os helicópteros têm, no mínimo, uma autonomia de 90 minutos. O tempo considerado para uma primeira intervenção. Os primeiros 20 minutos são o ataque inicial e o GIPS deve chegar ao local dentro desse limite, depois de dado o alerta. Isto vale, quer para a equipa heli, quer para a equipa terrestre. Como o distrito de Bragança tem uma vasta área de abrangência, daí a importância e a necessidade de uma terceira aeronave para cobrir com uma maior eficácia três concelhos localizados na periferia do raio de acção do GIPS.
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