17 de dezembro de 2010

"NA CRISE, VEMOS OPORTUNIDADES"


FACTOS

Nomeado: Alcídio Augusto Castanheira
Cargo: Presidente da direcção
IPSS - Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança (ASMAB)


ENTREVISTA

1 @ Há quanto tempo lidera a ASMAB, enquanto presidente da direcção?

R: Há 5 anos, com a mesma equipa. O grupo tem-se mantido coeso... Estamos, agora, a partir para o terceiro mandado com eleições a 17 de Dezembro.

2 @ A Associação fez 140 anos na terceira semana de Março passado, mais concretamente, no dia 19. Conte-nos um pouco da sua nobre história no mutualismo português.

R: O princípio da solidariedade manifestou-se quando, há 140 anos, o Estado não providenciava respostas sociais aos cidadãos. Foi, então, que um grupo de pessoas desta cidade, os artistas, que eram os carpinteiros, os alfaiates, entre muitos outros, se uniu e formou a Associação para dar essas mesmas respostas sociais. Na altura, o mutualismo estava em franca expansão e foi quando esse valioso grupo de cidadãos deu início a este acto de solidariedade. Na cidade, havia apenas outra instituição a fazer o mesmo, que era a Santa Casa da Misericórdia.

3 @ Sendo a sua génese a do mutualismo, a alteração dos estatutos da Associação veio dar-lhe um âmbito de trabalho nacional. Transformada, num passado recente, em IPSS, para dar respostas sociais integradas e protocoladas com a Segurança Social, faz ideia a quantas pessoas prestam auxílio, actualmente, em termos sociais?

R: Temos a área do Centro de Dia para 30 pessoas, o Convívio para 70 pessoas, o refeitório social para 110 pessoas, mas que acaba sempre por ultrapassar esse número. Depois, temos a creche familiar para 48 crianças e 12 amas e o Núcleo de Atendimento às vítimas de Violência Doméstica. Aí não há números, mas estamos envolvidos num protocolo com outras dez instituições. As principais são a Segurança Social e o Governo Civil.

4 @ E associados?

R: A ASMAB tem uma média de 400 associados, que formam a base de sustentação da instituição, uma vez que estiveram na sua origem. Eles têm direitos e deveres. O dever de pagar a sua quotização mensal, mas, depois, têm direitos nas áreas medicamentosa e médica. Nesse sentido, podemos considerar que são, também, pessoas beneficiadas. Para além de poderem aceder a todos os meios da instituição, nomeadamente, ao Centro de Dia, se entenderem, formação, que nós administramos. Já tivemos pintura, tapeçaria, actividades que são colocadas, também, à disposição dos associados.

5 @ Ou seja, para além dos mais carenciados, a ASMAB auxilia, ainda, os seus associados? Caso estes manifestem interesse...

R: Exactamente! Depois, no âmbito da IPSS e dos acordos de colaboração, apoiamos essas pessoas que mencionei primeiro. Quer com a creche, quer com o Centro de Dia, o Centro de Convívio, o refeitório social, entre outros...

6 @ No total, os números atingem os cerca de 700 indivíduos?

R: Mais os utentes, que ultrapassam as 100 pessoas. Estes, não tendo as mesmas regalias medicamentosas e médicas que os nossos associados, porque são inscritos já numa idade superior a 55 anos, podem usufruir da gama de serviços que colocamos ao seu dispor.

7 @ Dada a dimensão da instituição, pois envolve mais de 800 pessoas, quais são as principais dificuldades com que esta se depara?

R: As principais dificuldades são económicas, como é óbvio. Qualquer instituição gostaria de fazer mais, faltam-lhe é os meios para que isso aconteça. Nós, neste momento, temos os meios humanos, felizmente. Faltam-nos é os meios económicos. Mesmo se os tivermos, pedimos sempre mais com o intuito de irmos sempre mais além. Aquilo que fazemos é dimensionar o trabalho da instituição em conformidade com o orçamento aprovado para o ano seguinte, pensando nas receitas que iremos captar. E, portanto, somos constantemente confrontados com o dilema dos recursos financeiros.

800 pessoas envolvidas, 32 funcionários, 200 almoços por dia, 7 mil refeições por mês, 500 mil euros por anos, são apenas alguns dos números que caracterizam a ASMAB

8 @ Antes desta entrevista, consegui apurar que é necessário um valor próximo dos 45 mil euros mensais para lidar com todas as despesas inerentes ao bom desempenho da Associação. É correcto esse valor?

R: Sim. Nós temos um orçamento anual que ronda o meio milhão de euros.

9 @ E de onde provém?

R: Nós temos diversas proveniências como a quotização dos associados, dos utentes, as rendas, a comparticipação estadual e outras fontes de rendimento.

10 @ Desse meio milhão de euros, qual a comparticipação do Estado?

R: Presumo que ande nos 60 por cento. Depois, prestamos determinados serviços. É importante referir que, à margem disso, constituímos uma empresa de inserção na área da lavandaria e limpeza. São cinco empregos criados para pessoas em risco. Fazemos, ainda, trabalhos de limpeza ao domicílio e temos a empresa de lavagem de roupa sediada na instituição. Com quase dois anos de vida, é uma empresa que está em nítida ascensão e que pensamos expandir.

11 @ Como é que a ASMAB encara este período natalício? Sobretudo, numa época de crise explícita...

R: Estes são tempos de solidariedade e sendo a ASMAB uma instituição de solidariedade social não podia deixar passar em claro esta quadra natalícia. Por isso, desenvolvemos algumas iniciativas na esperança de lisonjear alguns dos problemas que existem, na tentativa de fazer com que o Natal seja um bocadinho diferente dos restantes dias. Assim, no dia 18, haverá duas celebrações. A primeira, durante a tarde, será uma festa para as crianças da creche com um programa educativo e lúdico, para além do lanche. Depois, acontecerá a Ceia de Natal para os associados. Para os utentes, a 24, terá lugar uma festa especial, o Dia de Natal. Estamos sempre receptivos àquelas pessoas que mais necessitam, nestes dias, de um apoio, de um carinho, para além daquilo que precisam, o carinho é, também, muito importante porque temos aqui muitos idosos a viverem sozinhos.

12 @ Vê a solidão como um dos principais problemas da terceira idade na região?

R: Sem dúvida. E nós temos muita gente no Centro de Convívio que vem diariamente e passa aqui os seus dias connosco. Uma companhia que é muito importante para eles.

13 @ E a crise tem-se reflectido num aumento da procura de ajuda?

R: Na nossa instituição, não se tem registado um aumento exponencial na procura de ajuda. Talvez, no próximo ano. Não lhe sei dizer... Poderá vir a acontecer. Se o desemprego aumentar e se o Estado não conseguir responder, socialmente, a todos os pedidos.

14 @ Vão decorrer, agora, eleições a 17 de Dezembro. A sua lista será a única candidata à presidência para um terceiro e último mandado. Lê, neste facto, o reconhecimento e o mérito, não só do seu trabalho, como o da sua equipa?

R: Não sei! Isso terá que perguntar às outras pessoas. Aquilo que eu sei é que se houver uma má gestão, a culpa é minha. Se houver uma boa gestão, a responsabilidade é de todos. Eu tenho uma equipa de colaboradores e funcionários que me acompanha desde o início. E, para mim, esse é um motivo de orgulho. Aquilo que eu espero, neste meu último mandado, talvez um dos mais difíceis, é deixar os projectos que temos em mão, não digo concluí-los, mas, pelo menos, iniciá-los ou deixá-los em bom andamento.

15 @ E que projectos são esses?

R: Um deles é a conclusão das obras no sector administrativo aqui na sede que iniciámos no segundo mandado e que vão, agora, para a fase final. Outro projecto é a Casa Abrigo, na ordem dos 800 mil euros, para as vítimas de violência doméstica e que iremos apresentar a todos os associados na Ceia de Natal do dia 18. Já temos o terreno nos Formarigos, cedido pela Câmara Municipal, e terá capacidade para 30 pessoas. É um projecto de âmbito nacional, já elaborado, e que nós gostaríamos de colocar em marcha. Se houver uma vítima no Algarve a precisar de abrigo, poderá vir para Bragança. Se isso acontecer, a instituição passará a ter uma outra dimensão. Este mandado é de muita responsabilidade. Porque achamos que é um momento difícil, é necessário investir. Na crise, não vemos só dificuldades, vemos, também, oportunidades de engrandecimento da instituição.
 
 

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