20 de janeiro de 2010

FERNANDO CLARO


OLHOS NOS OLHOS


Uma figura inquestionável da Patinagem em Portugal e na Europa

FACTOS

Nomeado – Fernando Claro
Tempo – 64 anos
Lugar – IV Torneio dos Reis, de 8 a 10 de Janeiro
Origem – Valpaços
Ofício – Presidente da Federação de Patinagem de Portugal e presidente da Confederação Europeia de Patinagem sobre Rodas

ENTREVISTA

1 – Sendo um dos nomes incontornáveis da Patinagem em Portugal, descreva, aos nossos leitores, alguns pormenores da sua já extensa carreira?

R: Estou no dirigismo há 31 anos, fui presidente da Associação de Patinagem do Porto e, desde 2003, que sou o presidente da Federação de Patinagem de Portugal (FPP), cargo que acumulo com o de presidente da Confederação Europeia sobre Rodas (CERS), que conta com 28 países em modalidades como o hóquei em patins, patinagem artística, a patinagem de velocidade e o hóquei em linha.

2 – Qual é a grande meta que antevê para si?

R: O ano de 2012, na medida em que, gosto de definir as minhas metas, quer o início, quer o seu fim. Quero deixar a casa completamente arrumada. Situação que eu, infelizmente, não tive. É a única forma de partir com a consciência tranquila porque quando assumo compromissos, faço-o com toda a disponibilidade e dedicação e não utilizo aquele sistema de quem vier atrás que feche a porta.

3 – Quais são os objectivos da sua agenda profissional até 2012, ano em que terminará o seu mandato?

R: Conseguimos evitar a catástrofe e desejo, agora, estabilizar a Federação economicamente, mas já começa a respirar saúde. Ao meu sucessor, quero deixá-la no bom caminho, só assim sairei tranquilo. Quanto a metas desportivas, iremos ter grandes acontecimentos em Portugal. Na Arena de Portimão, de 22 de Novembro a 4 de Dezembro, iremos receber, pela segunda vez, o Campeonato do Mundo de Patinagem Artística, realizado, em Portugal, há 32 anos, onde irão estar presentes 30 países. Em 2011, teremos também o Campeonato da Europa de Patinagem Artística e o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins em sub20, cujas datas ainda não estão definidas. Em 2012, também teremos o Campeonato da Europa de Seniores de Hóquei em Patins e, se tudo correr conforme previsto, em 2013, teremos o Campeonato do Mundo de Seniores de Hóquei em Patins. Serão quatro anos de grandes eventos, que servirão para projectar, quer o nosso país, quer as nossas modalidades, a nível internacional.

4 – São eventos de classe mundial e muitas responsabilidades para a FPP?

R: Costuma-se dizer que o trabalho dá saúde. Agora, temos de ser organizados, rigorosos, transparentes e, essencialmente, frontais. Sendo transmontano, sem querer menosprezar qualquer região do país, falo com todos olhos nos olhos. Sabe que, eu pauto-me por uma politica desportiva de unicidade e não estou preocupado em receber críticas, sobretudo, se forem construtivas.

5 – Como é que vê o actual estado do hóquei em patins em Portugal, passado e futuro? O facto de termos perdido, recentemente, títulos importantes, é responsabilidade nossa ou são os adversários que estão mais fortes e a modalidade mais competitiva?

R: Isto é cíclico! Nós, de facto, não temos ganho aqueles títulos que ganhávamos aqui há uns anos atrás mas também temos de ter respeito pelos adversários. Temos perdido, mas temo-lo feito com dignidade! Isso não significa que haja fracturas no nosso projecto ou que este esteja mais fraco. Pelo contrário, está a dar resultados, sobretudo, na formação. Aliás, nos últimos anos, temos sido campeões da Europa de sub17, porque não há campeonatos do mundo, e de sub20. Isto quer dizer que, a curto prazo, nos seniores, voltaremos a ter grandes equipas. Fizemos agora um grande trabalho com a implementação das novas regras.

6 – E como é que descreve o trabalho da Federação Portuguesa em implementar as novas regras em parceria e coordenação com as Federações Espanhola e Italiana?

R: Foi um grande trabalho! Duradouro! Mas penso que, a modalidade saiu mais acreditada, na medida em que, as alterações foram aprovadas a nível global e todos os países irão jogar com as novas regras. Alterações no sentido de uma maior dinâmica, visibilidade e disciplina no espectáculo desportivo. Isto porque, hoje, se um jogador sair a equipa fica em inferioridade numérica. Ou seja, valoriza-se a suspensão! Algo que não acontecia antes e que torna o jogo mais disciplinado, quer dentro do ringue, quer nos próprios bancos das equipas. Houve outras alterações bastante significativas, como a redução no tempo de cada partida e ser possível à equipa que ataca ultrapassar a linha do anti-jogo, o que lhe permite sair em ataque planeado, mais organizado.

7 – Prevê-se, portanto, que a curto, médio prazo, Portugal volte aos títulos e, em vez de se limitar a sonhar, conquistá-los?

R: É para isso que trabalhamos! Não queremos defraudar os portugueses! Permita-me que puxe a brasa à minha sardinha, mas o hóquei em patins faz parte da nossa cultura. Quando era eu um jovem, lembro-me das pessoas com os seus ouvidos colados ao rádio para ouvirem os relatos do hóquei em patins, numa altura em que, este nos deu grandes vitórias e alegrias. Nós temos uma sala de troféus fabulosa e, portanto, queremos que o público volte novamente a ver o hóquei em patins como ele merece!

8 – Partilha da perspectiva que viabiliza um decréscimo no interesse do público sobre a modalidade?

R: A nossa modalidade estabilizou, quer a nível de atletas, quer a nível de clubes, Acontece que, actualmente, há mais solicitações e as pessoas têm menos dinheiro. Esta é uma crise transversal! Ao vosso caso, tenho que tirar o chapéu e prestar a minha homenagem a estas gentes de Bragança pela sua disponibilidade para a prática da modalidade, percorrendo, cada época, milhares de quilómetros para integrarem o campeonato.

9 – Tirando o hóquei em patins da linha da frente, como interioriza a prática de outras modalidades, com o futebol no topo, frequentemente, sem o merecer?

R: Permita-me que lhe diga, mas a imagem que o futebol dá é a de ditadura do desporto. Isto porque, quase que a totalidade das apoios são canalizados, directamente, para o futebol. Venham eles de sponsors ou do governo. Não temos qualquer dúvida que o futebol é um produto que se vende bem, mas, certas situações, fazem com que o dinheiro não chegue a outras modalidades. Verbas astronómicas são enterradas em estádios vazios como, por exemplo, o de Faro, Leiria e Beira Mar.
Quanto a outras modalidades, é triste constatar que, mesmo com transmissões televisivas em directo, a maior parte das vezes, os pavilhões estão desertos. Porque, hoje, há as grandes superfícies, inúmeros centros comerciais. A disponibilidade das pessoas também é menor, temos uma vida, profissional e familiar, mais agressiva, na qual temos de estar mais atentos e, portanto, tudo isso vai entroncar nessas situações.

10 – Desde 2003, que o governo exige uma taxa de 5 mil euros mais IVA pela transmissão de um jogo de hóquei em patins. Trata-se de cortar as pernas à modalidade?

É o serviço público que nós não temos. Até 2003, a televisão era gratuita. Agora, para termos um jogo de hóquei em patins na televisão precisamos pagar “a módica quantia de” 5 mil euros mais IVA. Nós, federação ou os clubes. Estamos a falar de 6 mil euros. Inclusive, canais privados, a levarem 3500 euros. Quem não aparece, esquece! E era importante o hóquei em patins voltar à televisão. A seguir ao futebol, somos a modalidade com mais percentagem de share, o que significa que somos a segunda modalidade mais vista pelos portugueses.

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