GIPS em instrução interna de intervenção táctica em incidentes com armas de fogo na Escola Augusto Moreno
Depois do Agrupamento de Escolas de Alfândega da Fé, foi a vez da Escola E B 2,3 Augusto Moreno receber o Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro (GIPS). Tratou-se de um treino de intervenção táctica em incidentes com armas de fogo em estabelecimentos de ensino, após 16 sessões teóricas, durante dois dias. O objectivo principal visou preparar os militares da GNR para uma situação de perigo potencial, aquando da entrada na escola de um aluno com arma de fogo com o intuito de matar. A preocupação residiu no treino de técnicas que permitam aos militares, no mais curto espaço de tempo, dar uma resposta mecanizada a estes casos de violência extrema.
O modus operandi do GIPS para essa situação concreta foi, assim, treinado, por duas ocasiões distintas. No entanto, esta instrução interna evoluirá, mais tarde, para uma acção de sensibilização nas escolas. Acção essa que procurará transmitir ao corpo docente, alunos e funcionários quais os procedimentos correctos a tomar perante uma situação em que um jovem traga uma arma de fogo para a escola e decida começar a matar compulsivamente todos aqueles que se atravessem no seu caminho, inclusive colegas e professores. De sublinhar alguns dos comportamentos fundamentais a adoptar. A principal medida passa por tentar, de imediato, avisar as autoridades. Em seguida, caso seja possível, a população escolar deve ser conduzida de forma ordeira para um ponto seguro de fuga, mantendo, sempre que possível, a calma na evacuação. Caso esse cenário não se coloque, isto é, caso as pessoas estejam no mesmo bloco que o foco do perigo ou, se não conseguirem fugir dele, devem trancar-se numa sala e barricarem-se dentro desta. De acordo com os especialistas, como a preocupação do atirador activo é abater o maior número de pessoas no mais curto espaço de tempo possível, se o agressor constatar que a porta está fechada, não perderá tempo e passará, de imediato, para outras salas. Trata-se de entrar na escola ou em outro local, com uma ou várias armas, e abater o máximo de pessoas, no mais curto espaço de tempo possível. Uma espécie de corrida contra o tempo. Isto porque, desde que começa o “massacre”, a média de mortos é cerca de um a cada seis minutos.
O GIPS escolheu as escolas para ministrar essa “acção de mecanização” aos seus militares, pois é onde existe uma maior probabilidade desses incidentes acontecerem, não só pela quantidade de gente, mas, também, pela facilidade de fazer muitas vítimas num espaço de tempo muito reduzido. Mas estes casos de assassínio em massa podem acontecer em qualquer estabelecimento público ou centro comercial.
Os funcionários e, sobretudo, os professores, devem compreender esta problemática, estar atentos e assinalar os indivíduos que possam representar algum tipo de perigo, aqueles que mais se isolam ou aqueles com um comportamento atípico.
TIPOLOGIA DO CRIME
Psicólogos, psiquiatras e sociólogos avançam nas pesquisas sobre este fenómeno recente, tentando perceber os motivos que levam um jovem, em fase escolar, a transformar-se num assassino em massa. Alguns pontos, porém, são coincidentes: a) a maioria dos assassinos são jovens (homens), considerados pelos estudos como ressentidos, rotulados de loosers (perdedores) pelos colegas e professores; b) são viciados em videogames e filmes violentos; c) têm acesso fácil a armas; d) são quietos, reservados, esquisitos; e) escolhem disparar na escola e depois suicidam-se; f) antes do acto não apresentam qualquer sinal de comportamento desviante ou histórico de delinquência, mas têm um histórico familiar complicado.
“Esses gestos homicidas e suicidas são propositadamente públicos. Não se trata de alvejar todos aqueles que estejam a passar a partir de uma janela escondida: a matança é teatral”, afirma o psicanalista Contardo Calligaris. “Eles planejam os crimes como se fosse um espectáculo. Agem como se fossem protagonistas de um filme violento. Parecem movidos pelo desejo de omnipotência e de “produzir remorso em escala global”, revela o especialista brasileiro. “Se você não pode se tornar conhecido e famoso na e com a sociedade, então se volte contra ela”, conclui Calligaris, sobre a forma de pensar deste tipo de indivíduos.
SUA ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
No início, esse tipo de crime era considerado apenas mais um sintoma da cultura norte-americana, que sobrevaloriza o espectáculo, o dinheiro, as armas, a competição e o consumo. Mas, foi na Escócia, em 1996, que aconteceu o primeiro massacre. Morreram 16 crianças e um professor, mais o assassino que, depois do crime, se suicidou.
Em 1997, na cidade de West Paducah (Kentucky/ EUA), um adolescente de 14 anos matou a tiro, após a oração matinal, três colegas de escola, e cinco outros foram feridos. Depois, em 1998, em Jonesboro (Arkansas), dois rapazes, de 11 e 13 anos, abriram fogo na escola, matando quatro meninas e uma professora. No mesmo ano, em Springfield (Oregon), um jovem de 17 anos matou a tiro dois colegas e feriu outros 20 na sua escola secundária. Em 1999, dois jovens, de 17 e 18 anos, provocaram um banho de sangue no Instituto Columbine, em Littleton (Colorado). Com armas de fogo e explosivos, eles mataram, na sua escola, 12 colegas, um professor e, em seguida, suicidaram-se. Mas, esse tipo de massacre nas escolas, vem, também, ocorrendo em países de diferentes culturas e separados por milhares de quilómetros de distância. Canadá, Escócia, Suíça, Alemanha, Japão, Uganda e até a Finlândia, que é 1º lugar no ranking das melhores escolas do mundo, teve dois massacres: 9 e 11 pessoas foram assassinadas numa escola, respectivamente, em 2007 e 2008.
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