30 de março de 2011

TERRA FÉRTIL QUEBRADA EM SONHOS

Paçó era aldeia da agricultura e do fumeiro, cresceu em arquitectura mas perdeu em “povo cheio”

No concelho de Vinhais, distrito de Bragança, respira a aldeia de Paçó. Enquanto freguesia, situada em pleno Parque Natural de Montesinho, abrange uma área de 40 quilómetros quadrados, distribuída pelos lugares de Paçó e Quintela. Numa terra em que se “colhe de tudo”, a agricultura estabelece-se, agora, num perímetro secundário, dado o escasso número de pessoas que lhe dedicam o seu tempo. Os entrevistados, nascidos na povoação, muitos já correram o mundo. Regressados à origem, partilham da triste visão que, um dia, aldeias como Paçó morrerão, ao caírem no esquecimento de uma geração de jovens cujo futuro não passa, nem pode passar pela agricultura. Um fardo que se deve, em grande parte, ao pouco rendimento que se lhe retira em termos financeiros. “Daqui a 20 ou 30 anos, aldeias como Paçó acabam. Ninguém quer aprender, nem sabem. E o governo também não ajuda. Quando os do meu batalhão acabarem... Mas os jovens também não podem, que isto não dá dinheiro”, admite João Oliveira.
O fumeiro, esse, não foi esquecido e mantém-se, ainda, numa posição privilegiada no Entrudo Transmontano. Em cultura, Paçó destaca-se no artesanato com o calçado, as rendas e os bordados. Imersa num conteúdo histórico milenar, Paçó foi vila por foral de D. Dinis em 1310. Dois séculos passados e, em 1512, D. Manuel I concedeu novo foral à povoação, nomeando-a sede de concelho, extinto, depois, no ano de 1836. Com pouco mais de uma centena de habitantes, Paçó é uma aldeia cujas actividades económicas se baseiam tão somente na agricultura, na pecuária e no pequeno comércio.

A freguesia é conhecida, também, por Paço de Vinhais para se distinguir de outras povoações com nomes semelhantes

A Festa de S. Julião acontece a 7 de Janeiro. No centro da aldeia, frente ao pelourinho, fica a igreja matriz com o mesmo nome. No interior, é de sublinhar o seu acervo patrimonia: a talha barroca no altar-mor, nos laterais e nos retábulos, para além das pinturas do século XVIII nos tectos. Já no Santuário de Nossa Senhora da Ponte. Ermida, de construção recente, reúne-se uma vasta audiência durante o segundo fim-de-semana de Julho. Em Agosto, acontecem as Festas e Romarias de Santa Bárbara, S. Lourenço e Santa Marinha, povoadas de emigrantes que, por altura do Verão, regressam às origens mergulhados na saudade.
Com um vasto património cultural e edificado, destaca-se a Igreja Paroquial de S. Julião, a Capela de S. Lourenço, o Cruzeiro, fontes românicas, a fraga da Moura, o castro, vários moinhos e o Santuário de Nossa Senhora da Ponte. Outro dos locais de grande interesse turístico é a zona de caça, que elege como alvos preferenciais a lebre, o coelho e o javali.



TESTEMUNHOS

Abílio Morais, 64 anos

“Na aldeia, estão para aí 200 habitantes, mas já tudo mais para o velho. Aqui é uma terra boa, dá de tudo. Colho batatas e feijões, por exemplo. Mas só para nós porque para venda não dá. O que faz falta aqui é uma lista ao meio aí na estrada e umas guardas (raids) porque é perigosa esta estrada. Era uma obra de misericórdia.”


Cândido Anibal, 82 anos

“Casas, há o dobro! Agora, gente é que é pouca. Só estamos cá quase os velhos. Eu tenho 2 filhos e 2 netos. Querem lá eles saber da Paçó para alguma coisa. Lá vêm de vez em quando ver-me, mas só. Nós aqui temos é muitos castanheiros e uns bons terrenos, mas falta é gente que queira trabalhar. Ninguém olha para a agricultura!”


Leonor Oliveira, 42 anos

“A aldeia para mim é um espectáculo! Mas faz falta aqui tanta coisa que nem sei por onde começar... Um Centro de Dia para a Terceira Idade já não era mau. A estrada também podia ser melhor. Agora, estou a tratar do fumeiro com a minha mãe, que me ajudou, é do melhor que se faz para estes lados.”


João Oliveira, 47 anos

“Eu bem gosto de trabalhar, mas a agricultura não dá rendimento. Os adubos estão caríssimos, o gasóleo, as máquinas, as rações, tudo! Não há condições! Eu, por exemplo, tenho alguns castanheiros, cereais só para consumo e depois tenho dez vacas. Eu vivo da agricultura e da pecuária.”

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