Habitantes de Limãos agonizam fim da aldeia em três décadas devido ao envelhecimento da população
Numa extensa planície de prados verdes, rodeada pelos montes de Morais e o alto da Caroceira, situa-se uma aldeia não tão verdejante assim. Limãos pertence à freguesia de Salselas, em Macedo de Cavaleiros, e conta, actualmente, com perto de 100 habitantes. Abundante em água, com variadas fontes, poços e represas, e rica em ar puro, a povoação goza de um clima temperado e é considerada por muitos, em termos de fauna e flora, como uma das aldeias mais belas do concelho. Não obstante, o esquecimento a que tem sido votada preconiza um triste final para uma população maioritariamente envelhecida. Assim o disse uma idosa à entrada do povo: “aqui é só velhos”.
Onde, antigamente, a agricultura “dava frutos”, hoje, cultiva-se a terra, apenas, para consumo. Onde, outrora, os cereais moviam seis moinhos de água, nos dias que correm, resta, somente, a pecuária. Sobram os enchidos, os queijos frescos e outros pratos típicos que os mais idosos teimam em perpetuar num solo fértil em minerais e próspero em árvores de fruto que não brotam crianças. Num pessimismo rendido à evidência, a população fala contra os sucessivos governos, lamentam a votação ao marasmo e não acreditam num futuro sorridente. Pelo contrário, sentem-se condenados. “Daqui a 20 ou 30 anos, aldeias como Limãos vão ficar sem ninguém”, assume Clara da Conceição, para quem os seus dois filhos não quererão regressar à terra que os viu nascer. “Aqui não há trabalhos nenhuns, a não ser na agricultura. E mesmo isso não dá sequer para viver”, garante a septuagenária.
Internet wireless e um Lar de Idosos são reivindicações de Limãos, um povo com sede de investimentos
Num paradigma dos tempos modernos, resistem as famosas casas de xisto. Umas, abandonadas, outras recuperadas, a maior parte, em ruínas, sem ninguém. Com saneamento básico e electricidade, o povo reclama, agora, um lar para os idosos, já que o mais próximo é em Macedo e, segundo uma nativa limoense, “não chega a nada”. Mas o que faz mesmo falta, realmente, se se pretende atrair e fixar a juventude, é internet wireless, cujo sinal é proveniente de uma antena que, de momento, não existe. Um factor a ter em conta, pois muitos dos jovens que estão fora e que decidem regressar um fim de semana a casa ou mesmo em férias, reclamam o sentimento de terem volvido a um século passado. “Deviam colocar aqui uma antena para a internet, que os meus filhos para a ter têm de pagar mais de 20 euros todos os meses. Hoje, os jovens têm todos computadores e muitos trabalham online”, advogou Teresa Pires. Esta mãe de dois acredita que a internet poderá funcionar como uma espécie de âncora no sentido de “prender” os miúdos, nem que seja temporariamente.
O ex-libris de Limãos atinge a terra como um relâmpago no último domingo do mês de Agosto. São as Festas de Santa Eufémia, que inundam de gente alheia, visitantes, familiares, emigrantes e imigrados, uma terra que por povo anseia.
TESTEMUNHOS
Marcelina do Céu Fernandes, 75 anos
“As Festas de Santa Eufémia, no último domingo do mês de Agosto, trazem muitas pessoas à aldeia vindas de fora. Mas aqui não há quase jovens e bebés muito poucos. Tanta coisa que faz falta por aqui”
Clara da Conceição, 76 anos
“A aldeia é fraca porque não temos para aqui nada como nos outros sítios. Está tudo mal! Só somos velhos aqui! Gostava de um ambiente melhor aqui, mais vida, movimento. Não há escola, não há garotos, aqui não há nada!”
Humberto Augusto Brás, 78
“A agricultura está triste porque não compram os produtos que a gente fabrica: o azeite, o trigo, o centeio, não compram nada! Vem tudo de fora! Os deputados na Assembleia, só metade faziam mais”
Teresa Pires, 66 anos
“Está tudo muito pobre, mal amanhado, precisava-se aqui de muito trabalho. A culpa é da Câmara que faz noutros sítios o que não faz por cá. Gostava de ver algo aí para os jovens trabalharem, brincarem e divertirem-se porque senão não há forma de pararem aqui”
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