30 de abril de 2010

MANUEL CARDOSO

EM HARMONIA COM A NATUREZA


FACTOS


Nome – Manuel Cardoso
Data de nascimento - 26 de Dezembro de 1958
Origem - Macedo de Cavaleiros
Profissão – Escritor, médico-veterinário, presidente da Comissão Directiva da Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo e docente na Escola Superior Agrária (ESA) de Bragança
Maior defeito - Falta de paciência para com afirmações ignorantes
Maior virtude - Enorme esperança e optimismo
Livro que o marcou - The Story of San Michele ("O Livro de San Michele"), de Axel Munthe
Uma citação - “Nada te turbe, nada te espante, quem a Deus tem, nada lhe falta” (Santa Teresa de Ávila)

ENTREVISTA

1 @ Descreva-nos o seu percurso pessoal e profissional até chegar ao cargo de docente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

R: Nasci e estudei em Macedo de Cavaleiros. Em Coimbra, estudei num Colégio de Jesuítas e, depois, no Liceu de Mirandela. Frequentei a Faculdade, em Lisboa, onde tirei o curso de Medicina Veterinária e foi, então, que regressei a Trás-os-Montes. Exerci como veterinário, em regime liberal, durante muitos anos, até que, um dia, aceitei a proposta de vir dar aulas para o IPB. Aqui, já lecciono há 12 ou 13 anos e gosto imenso daquilo que faço.

2 @ Quatro livros editados fazem de si um escritor. Como é que começou esse gosto pela arte das palavras?

R: Desde sempre gostei de escrever. Mas, há um determinado número de acontecimentos ao longo da vida que fazem com que nós nos dediquemos, mais ou menos, àquilo que gostamos de fazer e conforme, também, a disponibilidade de tempo que isso envolve. Mas, arranjo sempre tempo para escrever. Curiosamente, a ESA está ligada, em boa parte, ao facto de eu publicar. Por uma simples razão, foi devido a uma cadeira relacionada com cavalos que eu lancei o meu primeiro livro. Um livro técnico sobre cavalos, uma espécie de sebenta feita para os alunos que foi publicada em forma de glossário. Nessa altura, eu tinha já escrito uma série de textos relacionados com a minha actividade veterinária. E, na mesma editora, um ano depois do glossário sobre equídeos, publiquei “Quartzo”, um livro de contos numa espécie de aventuras de um veterinário em Trás-os-montes nos anos 80 e 90.

3 @ Como é que surgiu no horizonte a ideia de escrever um romance?

R: Eu vinha reunindo, há muitos anos, elementos históricos sobre vários assuntos. Algo que eu faço frequentemente, é juntar elementos para aquilo que eu vou escrevendo. É então que aparece, quase completa, uma história que tinha um fundo verdadeiro fortíssimo. Uma história que acontece em 1918 e 1919, numa altura, em Trás-os-Montes, de incursões monárquicas contra a implantação da República. Passa-se num momento dramático, o fim da 1ª Grande Guerra e a existência de uma epidemia pneumónica muito severa, que matou imensa gente. Com esse pano de fundo, eu escrevi “Um tiro na bruma”, publicado em 2007, naquela que foi a história de uma pessoa da minha família, que era o meu avô Amadeu. Uma pessoa muito curiosa, mal dita por uma boa parte da família, que representava exactamente aquilo que a família não era. Ele era médico, veio para Trás-os-Montes, não era de cá, e esse romance, que se passa, essencialmente, em Bragança, Macedo e Mirandela, foi baseado em investigações feitas sobre essa época. Dessa pesquisa, resultou um subproduto, um livro acerca dos nomes das ruas de Macedo. Aliás, foi a Câmara Municipal de Macedo que me comprou o livro e que o publicou. Curiosamente, saiu, ainda, antes do próprio romance. “Macedo rua a rua” é o nome de um livro de bolso, que surgiu devido ao romance, e que explica o nome de cada rua, mostrando que não são aleatórios.

4 @ E o segundo romance, “O segredo da fonte queimada”?

R: O segundo romance, publicado há um ano, foi bastante rápido. Trata, sobretudo, de uma figura que protagoniza muito daquilo que são as figuras de Trás-os-Montes. Um homem, nascido em Mirandela, numa família de cristãos novos com algumas dificuldades devido à mentalidade da época. O protagonista vai, então, para Coimbra e forma-se em Medicina, protegido, em parte, pela família Távora, que, na altura, era preponderante na região transmontana. Depois, começa por ser um médico de grande sucesso, que não cabia, de forma nenhuma, no horizonte de Mirandela e Chaves, sítios onde ele começou a exercer Medicina. Ele era um médico muito interessado pela água e suas propriedades curativas em relação ao corpo, dotado de um grande sentido de oportunidade, que aproveitou indo para Lisboa. Foi médico da Corte de D. João Quinto e existiu na realidade, uma figura histórica de Portugal que se chamava Francisco da Fonseca Henriques.

5 @ Para quando o próximo romance?

R: Não sei! Há sempre qualquer coisa que está a ser escrita, mas não tenho prazos. Terá de ser em função do meu tempo e eu não planeio quando serão publicados. Ou seja, é um bocadinho fruto do acaso. Tenho um ensaio que está a ser escrito, bem como um romance.

6 @ Desenvolveu alguma metodologia própria para escrever? Do tipo, “obrigar-se” a criar, por dia, 10 páginas?

R: Gostaria de ter! Mas, infelizmente, todos esses planos saiem sempre gorados. Porque, para além da vida profissional que vivo, tenho, também, a minha família, os meus filhos e a minha mulher. Tudo isso ocupa bastante tempo, que temos de gerir de uma determinada maneira.

7 @ Para ser veterinário, suponho que possua uma paixão por animais. Assim como, para ser responsável pela Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo. De que forma, esses seus valores o comandam?

R: Durante toda a minha vida, fui um defensor dos valores da natureza como parte integrante daquilo que deve ser a plenitude de valores, que gira à volta do homem. Acho que a ecologia é um dos valores que o homem deve preservar, um bocadinho na esteira daquilo que foi ensinado por Ribeiro Telles, uma ecologia feita à escala humana, que é aquela que eu entendo. E não aquela ecologia de abandonar a natureza, do homem sair para ela seguir o seu caminho. Eu sou a favor daquela ecologia em que o homem deve viver em harmonia com a natureza.

Sem comentários:

Enviar um comentário